sábado, 3 de abril de 2010
Encenação da Via Sacra envolveu 80 jovens de Santa Cecília e arrastou multidão de fiéis
Comoção, fascínio e fé
Data: 03-04-2010
Uma comoção contagiante voltou a apoderar-se daqueles que subiram ao Pico da Torre, qual Monte Calvário em Câmara de Lobos, para sentir a pele arrepiar com os sete autos da dramatização dos últimos instantes da vida de Jesus Cristo, desde que entrou em Jerusalém até ao momento da crucificação e do mistério do sepulcro.
A encenação dos passos da Paixão de Cristo é um ritual religioso repetido todas as sexta-feiras santas desde há 15 anos. Ontem, o padre de Santa Cecílica juntou 80 jovens da paróquia para mais uma vez representar o mistério pascal, levando perto de mil fiéis e curiosos à colina. Para muitos, a Páscoa só tem sentido com a vivência deste ritual que desperta a fé e o fascínio perante o exemplo da crucificação cristã, há quase 2 mil anos.
Maria Teresa, de 54 anos, caminhava apoiava numa muleta. Não estava ali para pagar promessa nenhuma, mas para se deixar contagiar pela dramatização, assistindo ao sacrifício da morte de Jesus pela salvação do Mundo. "Ainda no ano passado vim. Este ano a minha cunhada trouxe-me de carro e estou aqui a ver a paixão de Cristo ao vivo porque é muito bonito".
Faltava pouco para as 9h30 (início da encenação ao vivo) quando, na subida da estrada do Pico da Torre, caminhavam em jeito de passeio, lado a lado, Maria José Gomes e Vasco Gonçalves. "Antes vinha aqui de férias e trabalhava lá. Agora é mais ao contrário: só vou lá de 'vacances'". Lá é Paris, onde o casal esteve emigrado durante 33 anos. Aqui, é o sítio de São João, junto ao restaurante Lagar (Câmara de Lobos), onde o casal optou por viver, desfrutando da aposentação merecida, após mais de três décadas a trabalhar numa fábrica parisiense.
Mas algo levou-os ao Pico da Torre, ontem de manhã. Maria José Gomes e Vasco Gonçalves deixaram, em França, uma legião de herdeiros de que muito se orgulham. Aproveitaram o ritual religioso da Via Sacra para "ver o espectáculo" e "passear", mas também para agradecer a ajuda divina na criação dos seus sete filhos e 16 netos.
Alcinda Fernandes vai de encontro ao genro e a filha que "já estão lá em cima". Vem de Saraiva, mesmo dali de Câmara de Lobos. É assim há 15 anos porque Alcinda nunca falhou uma cerimónia que fosse". Mas o que tem esta encenação de especial? "É ao vivo, é diferente, é verdade que é uma imitação mas choca-me aquela parte quando Jesus começa a ser castigado pelos soldados", confessa a comoção que sente e partilha com a multidão perante a dramatização da Paixão de Cristo.
"Tem gente de daqui, mas também de fora, porque eu trabalho num infantário no Funchal e há colegas que gostam de vir", sublinha.
Era difícil contabilizar com rigor o número de pessoas entre a multidão que ontem presenciou a celebração do mistério pascal de Cristo, dada a movimentação ao longo dos sete autos do drama, mas estaria perto de um milhar, de vários escalões etários.
Junto ao miradouro aguardavam David Neves, 20 anos, do Estreito, e a namorada, de Câmara de Lobos. Ele veio por ela. Ela pelos amigos que participam. Petra Silva, 17 anos, foi personagem durante cinco anos, ao longo da catequese. "Muitos papéis: fiz de povo, das mulheres que choravam", descreve. "Gosto porque é bonito e acima de tudo, porque é uma tarefa exigente", elogia o empenho dos jovens actores.
Jesus já subia o Monte do Calvário em agonia perante os açoites da legião romana que o mantinha sob a pesada cruz, quando Susana Oliveira, se arrumava entre a plateia. Da Laurencinha, trouxe à Via Sacra, o marido e as duas filhas. "Isto é bonito é ao vivo", diz. Está casada há tantos anos quantos os da existência do ritual da Via Sacra no Pico da Torre pela paróquia de Santa Cecília. "Em 15 anos só falhei no ano em que estava grávida do primeiro filho", confessa.
Os jovens que representaram o papel das personagens da misericórdia e da compaixão
Diana Abreu
A coragem de Verónia, a mulher que irrompeu entre os soldados romanos para limpar o suor da face "maltratada" de Cristo, é a grande virtude da personagem, reconhece Diana Abreu, de 24 anos. A jovem, natural do Ribeiro Real (C.ª de Lobos). Participa como figurante há sete anos. "Já fiz de criada, testemunha, Verónica, Nossa Senhora", enumera. O papel que mais gostou foi o de testemunha, quando denunciou João, perante o povo, em nome da justiça e da verdade.
Edgar Silva
O jovem de 19 anos, da Ponte dos Frades, vestiu o traje de Simão Cireneu. "Quando Jesus cai com o peso da cruz, os soldados vêm buscar-me ao campo para que eu vá ajudar Jesus a carregar a cruz", explica. "Depois, os soldados entregam-me ao povo e eu volto ao campo". Há três anos que Edgar participa como personagem no ritual encenado pela paróquia de Santa Cecília. Simão é um papel que gosta de desempenhar, porque representa a partilha do sacrifício, do sofrimento e da dor.
DN Madeira
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