terça-feira, 6 de abril de 2010

Nem um cêntimo chegou


Ismael Fernandes confia na reconstrução mas "não com a pressa desejada"

Data: 06-04-2010




Um mês e meio após a catástrofe natural, Ismael Fernandes garante que do apoio monetário prometido à Ribeira Brava ainda não chegou nem um cêntimo. "Ainda não chegou qualquer verba de apoio", assegurou, embora admita que já esta quinta-feira, por ocasião da visita à Região do patrão da SIC, Pinto Balsemão, sejam entregues, através da Associação de Desenvolvimento ADEBRAVA, donativos angariados no âmbito da campanha de solidariedade 'Um flor para a Madeira'.

O autarca reconhece que "o ideal era que os fundos fossem mais rápidos a chegar. Mas infelizmente a burocracia assim o impede". Defende por isso que a população deve estar esclarecida da realidade, lembrando que "o dinheiro da União Europeia só lá para o Outono é que vai ser aprovado. Depois ainda demorará mais algum tempo até ser disponibilizado e chegar à Madeira". Por outro lado, "o dinheiro da ajuda do Estado Português ainda está numa comissão que está a fazer a inventariação dos prejuízos". Está ciente que tão cedo não haverá dinheiro fresco para a reconstrução que já está no terreno. Além disso, mostra-se convicto que a ajuda prometida não virá toda de uma vez. "Virá consoante os projectos apresentados e as prioridades que irão ser definidas", sustenta.

Defende, por isso, a necessidade de "falar verdade" e não especular perante o ansiedade e até desespero dos que foram vítimas do temporal. A esses, pede para terem "calma e manter a serenidade, porque tudo iremos fazer no sentido de tentar resolver os problemas das pessoas, não com a pressa que desejavam, nem com a ânsia que têm, mas sim com calma e ponderação", assegurou Ismael.

De resto, admite que a reconstrução vai demorar anos. "É um trabalho moroso que não irá ser no primeiro ano, nem no segundo, nem no terceiro ano, que isto vai estar tudo concluído". "Deus queira que daqui a três anos tenhamos aquilo que foi destruído tudo reconstruído. Esta é a minha grande esperança".

Ainda assim, admite que a tentativa de 'sarar das feridas' possam até levar mais tempo, porque a reconstrução é "um trabalho que exige muita calma, ponderação e serenidade". Lembrou que as pessoas são as primeiras a saber que muitas das paredes que foram destruídas não foram feitas sequer por elas. Foram feitas pelos seus antepassados e demoraram anos e anos. Só que de um momento a outro elas desapareceram. Daí que "não é de um momento para o outro que se consegue resolver os muitos problemas surgidos", comparou.

Lembrou, de resto, que "a pressa não é sinónimo de bom trabalho", e apelou para que cada um tenha "a noção que mesmo sem dinheiro, porque ainda não veio dinheiro de nenhuma parte, está a ser feito um trabalho de recuperação que visa atingir aqueles objectivos que as pessoas pretendem". Contudo, "muito desse trabalho", pese embora a cooperação das entidades oficiais, "tem de partir da iniciativa privada". E apontou para o exemplo dos danos ocorridos na agricultura, que terão apoio a fundo perdido de 95%. "Essas pessoas têm de meter mãos à obra. Têm que ser elas próprias a recomeçar a reconstruir aquilo que é seu Não podem ficar à espera que sejam as entidades públicas a fazerem tudo, porque não podem e neste momento nem haveria capacidade", salientou.

O líder camarário tece reparos a quem apregoa apoios financeiros antes deles estarem devidamente negociados. "O problema às vezes é falar em dinheiro antes do tempo", critica, salientando que "só se fala em dinheiro depois de haver a respectiva garantia". Ainda assim mostra-se convicto de que os apoios chegarão. "Os dinheiros estão prometidos e penso e tenho fé que irão vir. É preciso confiar nas pessoas e é por isso que algumas obras já estão no terreno", concretizou.

Funchal e Santa cruz recorrem à "prata da casa" e à solidariedade para financiar reconstrução

"Antes do final deste ano a situação tem que ser desbloqueada porque temos muita coisa para arranjar", espera o presidente da Câmara Municipal do Funchal (CMF), Miguel Albuquerque, referindo-se às ajudas prometidas no âmbito do Orçamento de Estado e de apoios da União da Europeia. Até lá, o trabalho da CMF será feito à custa de meios e fundos próprios e ainda com os apoios financeiros que resultaram de várias campanhas de solidariedade promovidas por entidades e instituições particulares. "Desde o primeiro momento, o que interessava era pôr a cidade a funcionar e apoiar as famílias afectadas", observou o autarca, sublinhando que o que estava ao alcance da Autarquia foi concretizado. Além das 14 empreitadas que já foram para o terreno, em resultado da alteração orçamental que permitiu desbloquear cerca de 3 milhões de euros, a CMF tem trabalhado com outras instituições para fazer chegar os fundos resultantes das campanhas de solidariedade às famílias e empresários afectados no temporal de 20 de Fevereiro. Ao nível das infra-estruturas de esgotos e águas, indica Miguel Albuquerque, "temos largos milhões de euros de prejuízos", lembrando que até agora só "foi arranjado o que era possível arranjar". A asfaltagem de estradas é outra prioridade que está em 'banho-maria' por falta de verbas. "Tapámos os buracos por via das alterações orçamentais, mas obviamente que falta fazer trabalhos de fundo nestas estruturas". Em condições semelhantes está a Câmara Municipal de Santa Cruz. Felizmente, este concelho não foi tão afectado como a Ribeira Brava e o Funchal. Caso contrário, o trabalho que vem sendo efectuado com a "prata da casa", segundo qualificou o vice-presidente Jorge Baptista referindo-se à empresa municipal Santa Cruz XXI, enfrentaria muito mais dificuldades na sua concretização. Em conjugação com a Investimentos Habitacionais da Madeira, a Câmara tem procurado dar resposta aos casos prioritários ao nível dos imóveis afectados, trabalho para o qual também têm contribuído os "imensos" apoios que surgiram dos vários quadrantes da sociedade civil e de instituições como a Cáritas e a Cruz Vermelha Portuguesa. A par disto, a Autarquia está a tentar devolver a normalidade em várias infra-estruturas rodoviárias. Tudo isto está a ser feito com base na expectativa "que as ajudas venham mais tarde de modo a que possamos honrar os compromissos que entretanto estamos a assumir", avisou.


DN Madeira

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