segunda-feira, 5 de abril de 2010

Há um plano para sensibilizar CR9 a promover


Os operadores começam a falar conosco no sentido de fazermos alguma coisa. E esse fazer alguma coisa é sempre mexer no preço. Este é o drama com que nos deparamos”




Jornal da Madeira ­- As previsões de ocupações para a Festa da Flor indicam alguma recuperação, mas, mesmo assim, abaixo do que seria normal. Além da conjuntura internacional adversa, ainda poderá ser resultado do 20 de Fevereiro?



André Barreto - Terá a ver com as duas coisas. Resulta de aspectos conjunturais e igualmente do 20 de Fevereiro.

JM - Que fazer?
AB - Seria importante que, juntamente com a magnífica recuperação feita das infra-estruturas e da limpeza rápida que houve capacidade para fazer, iniciar um processo de comunicação com o exterior, afirmando, com muita força, o que estava a ser feito. Porque era demonstrativo da capacidade que o povo madeirense e os seus governantes tiveram de dar a volta a esta situação, da qual há a lamentar as mortes.

As vendas estão aquém do previsto no início do ano

JM - Isso quer dizer que o que está a ser feito é insuficiente...
AB - Passaram cinco semanas. .. Compreendo que o focus dos governantes tenham estado na recuperação. Mas gostava que estas palavras fossem lidas como um apelo para evidenciar que o Funchal e a ilha está em condições de continuar a receber os seus visitantes sem defraudar as expectativas e sem necessidade de entrar na lógica com que nós hoteleiros nos deparamos que é a da promoção.

JM - Isso quer dizer que existem hoteleiros a baixarem muito os preços para conseguirem clientes?
AB - As vendas não estão a decorrer conforme o esperado num ano que tinha começado francamente bem. Até o 20 de Fevereiro, quando se olhava para a frente, para o verão de 2010, a Madeira estaria a crescer 10 a 20 por das vendas em relação ao ano passado...
JM - ... num ano mau...
AB - ... mas estávamos a recuperar.
Depois do 20 de Fevereiro, numa primeira fase, assistimos a um grande número de cancelamentos, que é normal para as estadias próximas da data.
Mas o problema é que depois disso as vendas pararam. É uma realidade neste hotel (Quintinha de São João), mas também nos outros.
Por via disso, os operadores ficam preocupados e começam a vir para cá falar conosco no sentido de fazermos alguma coisa. E esse fazer alguma coisa é sempre mexer no preço. Este é o drama com que nos deparamos.

JM - Como podem evitar ir por esse caminho?
AB - Trabalhando outras vertentes do marketing, nomeadamente a comunicação.

Temos de passar do discurso à prática

JM - Será que a Madeira precisa de um “Mourinho” para a promoção?
AB - Tenho uma excelente opinião dos profissionais que trabalham nesta área no turismo. Não é por aí. Eventualmente, faltará capacidade para, de uma vez por todas, passarmos do discurso à prática.

JM - O que quer dizer com isso?
AB - Todos dizem que a indústria turística é a mais importante da região. Olhe-se para os investimentos na promoção e na cadeia de valor toda e veja-se se há correspondência entre a percentagem de receita e de investimento. Não há.
Quando falo na necessidade de se comunicar em força para o exterior, reconheço que, com os meios financeiros disponíveis, isso é mais difícil.
Mas pense-se no Cristiano Ronaldo. Há um plano de meios preparado para lhe mostrar e pedir que faça uma campanha pela Madeira. O problema é chegar lá, conseguir lidar com as pessoas que estão à sua volta. Penso que, se conseguirmos falar com ele directamente, tudo é possível.

Podemos utilizar a solidariedade para chegar a Ronaldo

JM - Qual será a estratégia?
AB - Poderíamos utilizar esta onda de solidariedade, sabendo que deverão existir contactos a nível dos presidentes de grandes clubes do futebol portugueses que terão acesso facilitado ao sr Florentino Peres, presidente do Real Madrid. Porque não ir por aí? Sensibilizá-lo para a tragédia que aconteceu e viabilizar a utilização da imagem do Cristiano Ronaldo, porque ele próprio já disse que sim.

JM - Fala-se que a promoção da Madeira está a pendurar-se muito nesta fase no mercado nacional. Partilha dessa leitura?
AB - É o único mercado que está a reagir. Reagiu logo, e bem.

JM- O crescimento deste mercado em 2009 não colmatou a perda dos turistas britânicos e alemães..
AB - Nem de longe nem de perto. É um mercado com caracretícas diferentes, de estadias curtas e mais de verão. Mas é um bom cliente, que gasta dinheiro no destino.

É importante que não se defraude o produto Madeira

JM- Porque é que a Madeira tem tanta dificuldade em encher as suas 30 mil camas? O crescimento acelerado da oferta hoteleira em relação à procura será o único culpado?
AB - Esse é um factor. Temos um POT (Plano de Ordenamento Turístico da Região Autónoma da Madeira) que difine 38 mil camas como tecto máximo.
O que parece faltar no documento é difinir um crescimento máximo anual.
Em segundo lugar, tem a ver com o produto. É importante que não se defraude o produto Madeira.

Há pouca conjugação de esforços

JM- O que quer dizer com não defraudar no produto. Não se sabe bem o que se vende?
AB - Há alguma indifinição relativamente ao que se vende. Há pouca conjugação de esforços.
Veja-se o slogan “Body. Mind.Madeira”. Define uma determinada imagem que foi utilizada pela Associação de Promoção da Madeira. Mas já não foi usada pela Direcção Regional de Turismo na promoção a nível nacional. E também não foi utilizado por muitos hoteleiros por considerarem que a imagem não fazia sentido.
Tem que haver uma partilha maior de ideias e de conceitos. E todos temos de assumir compromissos.
Há ainda um terceiro factor. É preciso termos uma informação mais correcta e precisa acerca de quem nos visita e dos potenciais clientes.
Por isso, defendo a criação do Observatório do Turismo, ligado à Universidade da Madeira. Temos de perceber claramente onde estão os problemas, e sabermos para onde queremos e podermos ir.

Quisemos unir a promoção mas privados não quiseram

JM- A promoção “bicéfala” poderá afectar a uniformização da imagem do destino Madeira?
AB - Isso é responsabilidade dos privados. Houve uma proposta de passar toda a promoção para o seio da Associação de Promoção da Madeira. Mas a grande maioria dos associados não compreendeu e mostrou-se pouco aberta.
JM - Acredita que a Madeira vai saber dar a volta?
AB - Há que encarar a realidade. Quarenta e cinco por cento de ocupação em 2009 é grave. Tem que ser visto e claramente enfrentado. Não ganhamos nada dizer que 2008 foi o melhor ano, se não juntarmos a isso que 2009 foi o pior. É preciso ter a perspectiva toda. Temos de ser capazes de enfrentar estes factos.

JM- Falou há pouco na pressão sobre os preços. Não deveria existir uma estratégia para manter os patamares mínimos?
AB - Não se pode fazer isso, porque seria cartelização. Mas poderíamos fazer outras coisas. Lembro que, quando fui presidente da Mesa de Hotelaria da ACIF, sempre defendi que deveria ser feita uma formação anual, direccionada a empresários de hotelaria e cargos de responsabilidade. Para que se explicasse como se fazem contas.

Destino Madeira continua a ser para os mais velhos

O filme dos realizadores Joel e Ethan Coen diz que “Este país não é para velhos”. Há quem queira inverter o histórico do destino Madeira e diga que já é para os menos jovens. Concorda?
Discordo. Qual é a única faixa etária em crescimento? É exactamente essa a quem devemos cativar. Tem mais disponibilidade para viajar o ano todo. E sentimos, de ano para ano, uma maior sazonalidade e mais problemas no inverno. A Madeira, que já foi um destino de inverno, é hoje claramente um destino de verão. Tem graves problemas durante quatro meses do ano, em Novembro, Dezembro, Janeiro e Fevereiro. São meses de grandes sacrifícios e encargos financeiros para as empresas.
Por isso, não tenho dúvidas nenhumas que se deve apontar claramente para os turistas mais velhos.
Além do potencial que diz dos mais velhos serem cada vez mais e terem mais disponibilidade, o produto Madeira, na generalidade, adequa-se a esse nicho...
... a grande maioria. Contudo, é preciso ter em linha de conta que uma pessoa de 60 anos, hoje pensa de maneira diferente de alguns anos. E nós, quer em termos de imagem, quer em termos de oferta, temos de ser capazes de responder a essa alteração.A Madeira tem essa capacidade e é claramente apelativa construindo a oferta em torno da natureza.



Jornal da Madeira

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