sábado, 10 de abril de 2010

“Estou no clube certo e quero ser campeão”

Rúben Micael afirma ter feito a opção em função do coração e sem olhar ao aspecto financeiro







JORNAL da MADEIRA –
Fale-nos da sua adaptação ao FC Porto que, por sinal, aconteceu de uma forma rápida, tendo em conta que chegou ao clube e passou a ser titular indiscutível na equipa?
RÚBEN MICAEL – Apenas tive que adequar-me à realidade do clube em si, uma vez que a minha maneira de estar e de jogar mantêm-se intocáveis. Quando à vida que levo no dia a dia não se alterou, faço tudo de forma igual. Relativamente à adaptação, acabou por ser fácil, porque o FC Porto tem um grande treinador e um grupo excepcional que me recebeu de braços abertos.

JM – Você chegou ao clube e começou logo a jogar, o FC Porto necessitava de um jogador com as suas características. Espera que as coisas acontecessem assim tão rapidamente?
RM – Deram-me uma oportunidade logo que cheguei, no jogo contra o Estoril, para a Taça da Liga, uma competição onde a aposta passa essencialmente por rodar a equipa. Jesualdo Ferreira falou comigo e disse-me que eu ia jogar, porque havia processos que tinha que assimilar e fi-lo dando o melhro de mim.

JM – Mas logo no primeiro jogo, mostrou uma adaptação espantosa...
RM – Sim, foi rápida porque na Madeira, através do técnico Rui Mâncio, tinha aprendido a enquadrar-me no 4x3x3. Com Manuel Machado, em alguns jogos, também tive a oportunidade de jogar sob esse esquema táctico e se um jogador quer atingir altos patamares tem que adaptar-se rápido, utilizando as aprendizagens anteriores. Ou seja, tudo o que aprendi com os trinadores anteriores fui pondo em prática e as coisas ficaram facilitadas. Para além disso, Jesualdo Ferreira teve o cuidado de emprestar-me um DVD, onde me foi possível observar os processos da equipa.

JM – Quer dizer então que Jesualdo Ferreira ajudou-o muito na integração?
RM – Sem dúvida. Ele preocupou-se muito com isso, inclusivamente parava muitas vezes o treino para me indicar o que pretendia que eu fizesse. Essa atitude do treinador foi deveras importante.
Senti que precisavam de mim e como tinha sido o único jogador contratado em Janeiro, senti a necessidade de esforçar-me para corresponder àquilo que estavam à espera, até porque o tempo era escasso.

JM – Como é que se sentiu nessa mudança radical, porque de repende passou de um clube de estrutura média para um outro de grande dimensão?
RM – Não me causou grande impacto, porque os portuenses são muito parecidos aos madeirenses, muito disponíveis para ajudar. Deixaram-me sempre à vontade e auxiliaram-me sempre em tudo o que foi preciso. Por isso, não foi assim tão complicado.

JM – Mas notou grandes diferenças entre o Nacional e o FC Porto?
RM – Sim, indiscutivelmente, são duas realidades bem diferentes.

JM – Nas diferenças que encontrou, o que foi que mais o surpreendeu?
RM – A responsabilidade aumentou consideravelmente. No FC Porto ninguém gosta de empatar ou perder e as pessoas exigem sempre mais.
Foi um passo importante, encarado sempre de uma forma natural e positiva.

JM – O que é que sentiu quando pisou pela primeira vez a relva do Dragão, com a camisola do FC Porto?
RM – Foi excepcional, fantástico mesmo, ainda por cima tive a oportunidade de estrear-me com o estádio quase cheio. É algo que irei recordar para sempre e transmitir depois aos filhos e aos netos.

JM – Porque optou pelo FC Porto? Era uma paixão antiga?
RM – Em primeiro lugar optei por um clube que nos últimos 25 anos ganhou 17 títulos. A nível internacional, o clube tem também um currículo invejável. Tudo isso pesou na escolha que fiz.

JM – Mas era ou não uma paixão antiga, era o seu clube dee coração?
RM – Sim é, assumo que sim. Já na época passada, tal como este ano, tive outras propostas interessantes, até finaceiramente superiores, mas o meu empresário sempre soube que a minha vontade era representar o FC Porto.

JM – Quer dizer então que o FC Porto soprepos-se ao ingresso num clube estrangeiro?
RM – Claro que sim. Posso dizer-lhe que tive a oportunidade de ir ganhar quatro ou cinco vezes mais, mas optei pelo FC Porto.

JM – Como é que foi recebido no seio do grupo?
RM – Fui recebido pelo Bruno Alves e pelo Nuno Espírito Santo que, juntamente com o Raul Meireles, representam a mística. Deixaram-me muita à vontade e ajudaram-se imenso, por isso não senti dificuldades.
Sem esse apoio que recebi, tenho a certeza de que tudo seria mais complicado.

JM – Como é que classifica a sua relação com os adeptos?
RM – É muito boa, sinto que têm por mim uma relação especial. Eles têm observado o meu comportamento, sabem que dou tudo dentro do campo, em prol da equipa e por isso penso que estão satisfeitos. Fora dos relvados, sabem que faço uma vida de acordo com um profissional que se preza, por isso...

JM – Qual é a opinião que tem sobre o presidente Pinto da Costa?
RM – É uma pessoa simples e humilde. É um presidente que já ganhou muito e que pretende continuar a ganhar títulos. Fala muito com os atletas no dia a dia, o que é bem demonstrativo da sua maneira de ser estar.

JM – Quando chegou ao FC Porto a equipa ainda tinha possibilidades de chegar ao título, hipóteses que entretanto se esfumaram. Na sua óptica, o que foi que é que falhou?
RM – Quando cheguei estávamos a quatro pontos de diferença do Benfica. No entanto, houve ali um jogo, frente ao Leixões, que foi determinante. Aquele empate, desviou decisivamente a equipa do título. Por sinal, até foi um jogo em que desfrutamos de muitas oportunidades, lembro-me até que nos escamotearam um pénalti. Acho que a partir dali as coisas alterararm-se, até porque, apesar de termos ganho o jogo seguinte, acabámos por empatar com o Olhanense e perder com o Sporting. Pelo meio, tivemos ainda a Liga dos Campeões e tudo isso influenciou.

JM – Como é que o balneário reagiu aos pesados castigos aplicados a Hulk e Sapunaru?
RM – Foi uma reacção negativa, até em função daquilo que os jogadores representam na equipa, sobretudo o Hulk que é um elemento preponderante, com qualidade suficiente para jogar em qualquer grande equipa no mundo.

JM – Acha que a quebra do FC Porto também teve a ver com esses castigos?
RM – Também fez parte, porque eles ficaram impedidos de ajudar a equipa, numa altura em que houve muitas lesões.
Ainda bem que o Conselho de Justiça da Federação reduziu as penas, porque sem Hulk o FC Porto jogava sem um extremo.
Os castigos tiveram o seu peso, mas não foi tudo, houve lesões e jogos em que tivemos a infelicidade não ganhar, alguns deles com golos marcados que só os árbitros não viram. Foi um conjunto de situações que complicaram bastante.

JM – Considera que para representar o FC Porto há que ser um jogador especial?
RM – Especial não sei, mas não tenho dúvidas de que tem de ter qualidade. Mas se tiver só qualidade e não trabalhar, tenho a certeza que não joga.

Se um dia regressar será para o União

Rúben Micael não esquece o clube que o formou. Apesar de ter iniciado a prática no GD Estreito, o médio do FC Porto viveu praticamente quase toda a sua formação no popular clube madeirense e é ali que pensa acabar a carreira, segundo afirmou.
“Nunca vou esquecer o União e espero um dia lá voltar. Foi lá que cresci, onde fiz a minha formação. Aprendi muito naquele clube, pois quando lá cheguei era um jovem rebelde. É um emblema fantástico, só tenho pena que algumas pessoas tenham dividido a colectividade pela metade, porque o União, com as condições que tem, merecia estar na divisão principal”, considera o madeirense, expressando todo o carinho pelo clube que o projectou.

CR9 é um grande exemplo

Cristiano Ronaldo é a sua referência, por tudo aquilo que o avançado representa no futebol e fora do campo. O portista não conhece pessoalmente o conterrâneo, mas no balneário os colegas que privam com CR9 já lhe transmitiram os traços da personalidade.
“Considero-o um jogador humilde e muito trabalhador. Muita gente tem uma opinião errada sobre ele. Ainda não tive o privilégio de o conhecer, mas aqui no FC Porto tenho alguns colegas que trabalham com ele na selecção nacional e que me dizem que é uma pessoa espectacular”, afirma com a simplicidade que o caracteriza.

Tragédia vivida à distância

«Só me apetecia chorar»

Rúben viveu à distância a tragédia que assolou a Madeira em Fevereiro. Foram momentos difíceis, segundo relatou.
“Não foi fácil. Senti muita tristeza. Quando olhava para a televisão e me deparava com aquelas imagens só me apetecia chorar. Só não me deixava emocionar, pela minha namorada, porque não ia ser bom. Estive sempre em permanente contacto com a família que, graças a Deus, não sofreu consequências.
A rápida recuperação operada na ilha que o viu nascer, trouxe-lhe felicidade. “Isso demonstra bem o sentido de superação dos madeirenses. Todos foram importantes, porque só assim foi possível limpar rapidamente a ‘cara’ do Funchal. Infelizmente houve pessoas que perderam os seus familiares, mas a vida continua e há que levantar a cabeça”, adiantou.

Rúben Micael foi capa na revista mensal "Dragões". Durante a entrevista, o atleta foi surpreendido pelo presidente Pinto da Costa, quando este lhe deu a conhecer ter sido escolha para ilustrar aquela publicação. Numa das páginas, o jogador tem uma afirmação curiosa: "Sou xavelha, com muito gosto".



Jornal da Madeira

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