terça-feira, 13 de abril de 2010

81% já tem luz limpa

A Madeira iniciou em 2009 uma viragem histórica pois já está a produzir energia renovável suficiente para abastecer 81% das casas
Data: 12-04-2010







Rui Rebelo, presidente da Empresa Electricidade da Madeira, revelou ao DIÁRIO que o ano de 2009 consubstancia os primeiros resultados significativos da estratégia e a linha orientadora da política energética regional.

Qual foi a contribuição das energias renováveis na produção de electricidade?
A contribuição atingiu a percentagem de 22,4% - na ilha da Madeira 23% - antecipando num ano o objectivo previsto de 22% para 2010. Comparativamente à média dos anos precedentes, verificou-se uma subida de 50% da penetração das energias renováveis, o que significa que Madeira já em 2009 produziu energia verde suficiente para assegurar as necessidades de consumo de electricidade de cerca de 81% do sector residencial (doméstico) da Região, prevendo que em 2013 assegurará mais de 100%.

A condição de ilha é um condicionamento de uma maior penetração das renováveis?
À semelhança das demais ilhas de pequena dimensão, a Madeira dispõe de um sistema eléctrico isolado, sem capacidade de interligação com outros centros de produção e de consumo, situação que condiciona fortemente a penetração de energias renováveis.
Em redes isoladas não é possível importar energia, pelo que o sistema tem de auto-sustentar-se, não sendo tecnicamente fiável construir um sistema eléctrico apenas com base em energias intermitentes dependentes da ocorrência de determinadas condições atmosféricas (chuva, vento, sol, etc.). Nestas situações, é tecnicamente sabido que a base do sistema é sempre garantida por energia térmica.

São esses os únicos handicaps?
Não, nas redes isoladas e de pequena dimensão, ainda existem outros constrangimentos, não menos importantes, que derivam da fraca procura de energia eléctrica nas horas de 'vazio', em que o consumo de electricidade, sendo muito reduzido, condiciona a produção de energia renovável.
Se tomarmos em consideração o período Outono/Inverno, nas horas de vazio, quando chove, a capacidade produtiva já instalada na Madeira - hídrica e eólica - é quase suficiente para satisfazer todo o consumo, pelo que, para instalar mais capacidade renovável é forçosamente necessário induzir o aumento do consumo nas horas de vazio. Simultaneamente, existem sérios e complexos problemas técnicos relacionados com a estabilidade e fiabilidade da rede, que é bastante afectada quando a percentagem de energias renováveis é elevada.

O que mais contribuiu para o o encaixe de 22,4% de energia renovável?
O ano de 2009 beneficiou de um regime hidrológico bastante favorável. Essa percentagem será, no entanto, ultrapassada no corrente ano de 2010 e, seguramente, em 2011, pois a previsível menor contribuição do sistema hidroeléctrico será superada por uma melhor eficiência de exploração dos parques eólicos e da prevista entrada em exploração de dois parques fotovoltaicos.

Quais são as vossas próximas apostas?
Está já em curso o processo de transformação do sistema hidroeléctrico da Calheta que, para além de contribuir para o aumento da componente hidroeléctrica, que passará a usufruir adicionalmente de dois grupos hidroeléctricos de 15 MW cada, alimentados por uma barragem de 1.000.000 de m3 de acumulação e ainda de uma estação elevatória de 15 a 20MW, possibilitará a instalação de cerca de mais 25 MW de potência eólica. Estas intervenções permitirão usufruir de um aumento de produção de 70 GWh, o equivalente ao consumo anual do concelho de Machico ou de Câmara de Lobos em ano médio de energias renováveis.

Significa isso que a partir de 2012 a componente renovável voltará a crescer?
Sim, e de forma acentuada, sendo, agora, razoável considerar-se que em 2013 atingir-se-á 26%.

Existem outros investimentos em curso?
Está em estudo, para executar entre 2015/2017, a remodelação do Sistema Hidroeléctrico da Serra de Água, que prevê a instalação de um novo grupo hidroeléctrico com potência da ordem dos 15 MW e o reforço da potência instalada eólica em cerca de 10 MW, o que irá permitir um acréscimo de produção de 38 GWh.
Em ano renovável médio esta produção será mais que suficiente para satisfazer as necessidades anuais de electricidade do concelho da Calheta ou da Ribeira Brava, podendo assim com a sucessão dos investimentos programados, estabelecer o objectivo de atingir, pelo menos, os 30% de penetração das energias renováveis em 2016/2017.

Não está previsto o reforço da capacidade produtiva instalada por via de investimentos em outras energias limpas ?
Existem projectos ao nível da energia fotovoltaica (17 MW até 2012) e a microgeração, da qual se espera um crescente contributo. A Região segue, igualmente com muita atenção, os avanços tecnológicos noutros domínios da energia renovável, que evidenciem a prazo, potencial de se apresentarem como soluções consistentes, seguras e competitivas, como sejam a energia das ondas, solar, hidrogénio, geotermia e outras.
Como testemunho deste forte empenho, é de salientar a instalação, na ilha do Porto Santo, da pilha de hidrogénio, projecto piloto na área dos dispositivos de armazenamento de energia.

Qual é o grande objectivo das políticas delineadas?
A Região propõe se atingir em 2016/2017, com toda a segurança, o 'target' de 30% de produção de energia eléctrica com recurso a fontes renováveis.

Compramos menos fuelóleo reduzindo a poluição

É uma vitória de Cunha e Silva, o vice-presidente que tem no Governo Regional a tutela da energia. Porque através das apostas feitas pela Empresa de Electricidade da Madeira foi possível, pela primeira vez, "reduzir a produção de origem térmica em mais de 80 GWh, o que significa uma redução na importação de 18.090 toneladas de fuelóleo e na emissão de 55.782 toneladas de dióxido de carbono para a atmosfera" constata com evidente satisfação Rui Rebelo.

Com a produção de energia limpa, a Região poupou muitos milhões de euros, situação que nunca ocorreu com esta dimensão. Considerando as cotações correntes, as emissões de poluentes evitadas pela produção renovável em 2009 representaram uma poupança de 1,9 milhões de euros em aquisições de licenças de emissão de CO2 e uma economia de cerca de 18,6 milhões de euros com a redução de importações de derivados de petróleo.
Por outro lado, a Madeira evitou a emissão de 149,2 mil toneladas de dióxido de carbono (CO2) e a importação de 48,4 mil toneladas de fuel, "o que realça amplamente o alcance refere o presidente da 'eléctrica' madeirense.

Ainda de acordo com Rui Rebelo, "para além do impacto que as energias renováveis têm sobre o ambiente, importa realçar o enorme alcance que estes investimentos têm na macroeconomia de regiões, como a nossa, fortemente dependentes da importação de produtos petrolíferos".
Na opinião deste especialista, "a Região comunga, aliás, da opinião da União Europeia, que considera que o sector eléctrico pode dar um grande contributo no combate à crise, através do reforço de investimentos em infra-estruturas energéticas, em tecnologias limpas de produção e ainda em tecnologias mais eficientes em utilização de energia".

De acordo com a estratégia, quando a Região produz electricidade com recursos endógenos renováveis, "o que está e pretende fazer-se cada vez mais é substituir importações de combustíveis por despesa interna regional, com efeito multiplicador na economia, por via do aumento do rendimento, do emprego e da procura agregada, com impactos muito positivos na balança de rendimentos e no valor acrescentado bruto da Região", enfatiza o nosso entrevistado.
Para o presidente da EEM, "graças ao efeito de substituição da despesa externa por interna - pagamentos a empresas sedeadas na Região em vez de pagamentos por importação de petróleo - é possível gerar crescimento económico, mais investimento, mais conhecimento por via de mudança tecnológica, mais emprego, mais rendimento, mais bem-estar e mais riqueza. Em termos práticos e objectivos, aumenta sustentadamente o Produto Interno bruto da Madeira".

Poupar 252 milhões em apenas 10 anos

Para o grande mentor da política energética regional, "com a concretização do plano de expansão de energias renováveis, espera-se que entre 2009 e 2017 seja possível evitar a emissão de 1.830 mil toneledas de dióxido de carbono (CO2) e a importação de 594 mil toneladas de fuel, traduzindo-se numa poupança de 252 milhões de euros".

Dada a crescente pressão da procura sobre os combustíveis petrolíferos e os crescentes limites à emissão de gases de efeito de estufa, Rui Rebelo não tem dúvidas que "apostar numa boa gestão das renováveis é, indiscutivelmente, garantir um futuro com desenvolvimento sustentável.
Os objectivos da Região são muito claros e bastante ambiciosos. Pretende-se uma melhoria contínua do parque electroprodutor com incorporação de centros produtores eficientes e, sempre que possível, não emissores de CO2".

É neste enquadramento que a Região, face à real impossibilidade de assegurar o abastecimento de electricidade só com recurso a fontes renováveis, tem, ainda, em curso "dois grandes projectos visando a substituição do fuel óleo na produção de electricidade, por matérias mais limpas e amigas do ambiente.
São os casos dos projectos de introdução de gás natural, cujo concurso de pré qualificação dos concorrentes será agora lançado, bem como a instalação de uma unidade de produção de bio-combustível na ilha do Porto Santo, com início dos respectivos trabalhos no mês de Julho próximo, anuncia o Rui Rebelo.

Produção eólica duplicou

A Madeira está apostada em cumprir as directrizes da União Europeia com o objectivo de garantir a regra dos 'três vintes' até 2020. Para que isso seja possível tem planeando e implementando adequados projectos em várias vertentes do sector eléctrico, "especialmente ao nível do parque produtor hídrico/eólico através de uma nova filosofia de exploração das centrais hidroeléctricas existentes, marcadamente de Inverno, transformando-as em funcionamento reversível, permitindo a sua exploração durante todo o ano independentemente da ocorrência de pluviosidade, mediante a retenção, acumulação e bombagem de água. A bombagem de água, que ocorre durante os períodos de vazio viabiliza, em simultâneo, uma maior penetração de energia eólica".

Segundo assume Rui Rebelo, em marcha está "um programa de acção muito ambicioso mas absoluta e comprovadamente fazível, iniciado no ano de 2007 com a transformação do sistema hidroeléctrico dos Socorridos, que proporcionou o aumento da potência eólica instalada de 8,6 MW para 37 MW, permitindo um acréscimo de produção anual na ordem de 60 GWh, sendo superior ao consumo anual dos três concelhos do norte da Madeira (Porto Moniz, São Vicente e Santana).

Uma vez que esta potência eólica foi progressivamente ligada à rede ao longo do ano de 2009, o seu efeito na produção de energia eléctrica no ano foi apenas parcial. Ainda assim, a produção eólica de 2009 mais que duplicou o valor do melhor ano até então", constata.
Para este responsável, "foi a combinação perfeita da realização e exploração destes investimentos hídrico/eólicos que fez progredir, significativamente, a penetração da componente renovável no mix total de produção".





DN Madeira

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