Por entender que residentes têm direito a viagens de baixo custo entre ilhas
António Castro, presidente da ACIPS, critica o Governo da República por nada fazer no que diz respeito a assegurar voos mais acessíveis para madeirenses e portossantenses entre as duas ilhas do arquipélago. O nosso interlocutor vai mais longe e diz que o Executivo central não está a garantir a continuidade territorial, questionando mesmo porque razão não assegura o Estado os custos com a paragem das low-cost na ilha, na rota entre Lisboa e a Madeira.
O Porto Santo continua a ser um mercado sazonal e de difícil acesso. A opinião é de José António Castro, presidente da Associação Comercial e Industrial do Porto Santo (ACIPS), para quem se torna urgente a promoção do destino na Madeira. «O Porto Santo vive essencialmente dos madeirenses. E como tal, não podemos estar aqui só à sombra de um empresário - neste caso, a PSL - em termos de promoção na Região. Temos de repensar toda esta situação com as entidades públicas e privadas. Em anos de crise económica e financeira a nível mundial, temos que ir buscar quem está mais perto», defende o responsável, em declarações ao JM.
O nosso interlocutor vai mais longe e salienta que o Porto Santo necessita de um projecto de baixos custos para cativar os madeirenses de Janeiro a Dezembro. «Tudo o que o presidente do Governo Regional delineou em 1977 para o desenvolvimento do arquipélago e, nomeadamente, o Porto Santo, não está a ser seguido por algumas entidades. Reporto-me à linha de transportes aéreos entre as duas ilhas, que é um descalabro. O Governo da República tinha que apoiar mais, porque o povo do Porto Santo para chegar à Madeira paga cerca de 80 e poucos euros e o madeirense paga 150 euros para cá chegar. Ou seja, hoje, nem os madeirenses nem os portossantenses usufruem de uma low-cost entre Madeira e Porto Santo», lamenta.
Ciente da aposta muito forte nos voos de baixos custos entre Lisboa e a Madeira, António Castro deixa um apelo a quem de direito: «O que nós pedíamos era que esses voos, quando viessem de Lisboa ou da Madeira, passassem no Porto Santo e deixassem os passageiros que quisessem aqui fazer férias. Não estamos a pedir nada surrealista e é isso que nos diz a Constituição da República. Porque é que estamos a pagar mais caro do que um português do continente? É isso que nos questionamos», complementa.
«Há rota entre Madeira e Lisboa, e vice-versa, todos os dias que era só o avião aterrar em Porto Santo. Se há custos para isso, o Governo da República é que tem que os suportar porque é um dever no âmbito da continuidade territorial», acrescenta.
António Castro defende também que o Porto Santo tem de ser mais do que turismo de sol e praia. «É uma ilha pequena, mas grande na segurança, um produto que se pode vender no exterior. É uma ilha ecológica e o geoparque é uma boa ideia alinhavada pelo presidente da Câmara, mas que tem os seus trâmites. O turismo desportivo também tem de ser uma aposta, porque há aqui uma série de infraestruturas que foram criadas para esse fim, nomeadamente, o ténis e o campo de vólei e futebol de praia. Temos ainda o mar para o mergulho, a vela e a pesca desportiva, que também poderíamos explorar mais e melhor no sentido de aqui trazermos outro tipo de cliente», justifica.
António Castro entende, por outro lado, que as entidades públicas, nomeadamente, a vice-presidência, investiram, tornando-se agora necessário que também os privados avancem.
Mas, há outras ideias, já antigas, que a ACIPS continua a defender, entre as quais, a criação de um pólo da Universidade da Madeira, com valências no âmbito da área científica. «Poderia até trazer alunos do estrangeiro, agora com os processos de Bolonha», salienta.
Uma coisa é certa: «O Porto Santo não pode continuar a depender só do turismo, sob pena de continuar a sazonalidade até sermos avós e trisavós».
Questionado sobre o seu futuro à frente da ACIPS, António Castro diz que continuará no cargo até 30 de Dezembro. Depois, diz que pretende «tirar o substracto do seu curso num futuro muito próximo».
Dois problemas urgentes por resolver
Um é o combustível e o outro a distribuição de víveres
António Castro defende que o Porto Santo depara-se, actualmente, com um problema grave e outro que urge "apertar". O primeiro diz respeito ao combustível, entendendo o presidente da ACIPS que «não podemos ter um empresário a brincar com o desenvolvimento da própria ilha, sabendo que as condições para abastecimento não tem grandes soluções».
Apesar do entendimento alcançado ontem entre o empresário e a Galp para a continuidade do posto no centro da vila, António Castro lembra que todas as peripécias em torno deste assunto têm sido divulgadas pela internet, sendo que a situação não abona em favor do destino turístico. «Alguém tem de resolver isto», frisa, deixando ainda um conselho: «Se o empresário acha que não tem capacidade, venda ou ceda a sua posição e entre ele e a Galp que façam o melhor para que fique resolvido. Não pode ser é o povo do Porto Santo a pagar».
O responsável acrescentou que a ACIPS tem vindo a acompanhar este caso desde há um ano a esta parte e lembra que há um dever social que tem de ser salvaguardado. Nesse âmbito, confessa que tem mantido reuniões com a Galp e também com a Repsol, no sentido de melhorar o abastecimento e mostrar a qualquer uma das marcas que o Porto Santo tem empresários que querem investir nesta situação.
O outro problema diz respeito à distribuição de víveres na ilha. A este respeito, António Castro defende que o Pingo Doce está a desenvolver um «belíssimo trabalho» na ilha, mas ressalva que é uma área pequena para o Porto Santo. «As condições físicas do espaço não são, para já, as ideais. Era melhor que isso fosse repensado. O Porto Santo está a crescer e merecemos mais qualquer coisa», diz.
Para mais, os outros espaços que existem não têm demonstrado as capacidades solicitadas e exigidas pela população.
Jornal da Madeira
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