quarta-feira, 17 de março de 2010

«É um erro plantar árvores em declives»

Alerta o padre Manuel Nóbrega que foi orador em conferência na Francisco Franco








«É um erro plantar árvores em declives. Todas as leis ciêntíficas do Mundo dizem que um terreno com uma inclinação superior a 16 por cento não podem ser arborizadas», a opinião é do padre Manuel de Nóbrega, naturalista madeirense e que foi orador numa conferência que decorreu ontem na sala de sessões da Escola Secundária Francisco Franco.
Momentos antes de falar para os estudantes daquele estabelecimento de ensino, o padre prestou declarações à comunicação social, tendo falado sobre as fronteiras da biodiversidade. A propósito, realçou que há um trabalho feito pela Academia de Ciências de Paris que diz que só há uma solução para os declives: «ou faz-se um arrelvamento e então, na medida em que este segurar o terreno, pode-se plantar árvores. Na medida em que o terreno não tiver consistência, é preciso fazer poios. Só quando existir consistência dos solos, pode-se arborizar».
No entender daquele especialista, «a vida que existe no mar não é igual à que existe na terra. Entre estes, há uma fronteira. Na terra, também há várias fronteiras desde o litoral até ao alto da montanha». Exemplificando a sua opinião, o orador lembrou que a bananeira e a cana-de-açucar têm uma área de cultivo que podem ir até aos 400 metros de altura. Dessa área para cima, surgem outras espécies.
«Se eu quiser trocar a área da banana ou da cana-de-açucar para plantar no Pico do Arieiro, não vou conseguir nada», explica o padre Manuel de Nóbrega, o qual refere que «a isto chamo fronteiras».
«É preciso preservar o endémico», admitiu Manuel de Nóbrega, para logo acrescentar que deve-se evitar aquilo que não é próprio de cada zona. A ocasião foi aproveitada para aquele orador esclarecer um erro que é muito comum dizer-se. «Uma coisa é plantar e outra coisa é reflorestar. Plantar, põe-se seja lá o que for. Reflorestar é pegar naquilo que é da ilha e tornar a dar-lhe vida», defendeu aquele responsável. Reflorestar não tem a ver com a plantação, por exemplo, «de plantas exóticas que nada têm a ver com a flora da Madeira».
«Não há reflorestação da Madeira mas sim florestação», alertou o orador. Tanto a Madeira como o Porto Santo não têm reflorestação mas sim florestação. «Arborizou-se com plantas que não eram dali», defende o padre Manuel de Nóbrega.
Como técnico do Jardim Botânico da Madeira, criou o hetrbário de plantas criptogâmicas, incrementou as colecções do herbário e do museu e desenvolveu estudos no âmbito da botânica. Em 1998, foi condecorado com a Ordem de Mérido do Presidente da República.



Jornal da Madeira

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