quarta-feira, 24 de março de 2010

Limpezas deixam à vista Fontes de João Dinis

Câmara do Funchal vai recuperar as fontes que foram mandadas construir em 1490
Data: 24-03-2010






Várias décadas depois de terem sido enterradas, nas obras de construção dos jardins que separam o Palácio de São Lourenço da Avenida do Mar, as Fontes de João Dinis vão voltar a funcionar. Esquecidas há muito tempo, embora a Rua das Fontes continue lá, devem o seu 'regresso' a um acontecimento trágico: os temporais de 20 de Fevereiro.

A aluvião que atingiu o Funchal encheu de lama os jardins e obrigou a obras de remoção de detritos, operações que começaram logo após a catástrofe. Foi precisamente nestas escavações que ficaram a descoberto as Fontes de João Dinis. Uma infra-estrutura de fornecimento público de água que foi mandada construir há 520 anos.

Em 1490, a Câmara do Funchal decidiu aproveitar a água do 'Altinho das Fontes', onde também foi construído o primeiro baluarte de defesa, que viria a dar lugar ao Palácio de São Lourenço. Agora, é precisa a Câmara Municipal do Funchal que vai recuperar este pedaço de património da cidade.

A descoberta das fontes deu-se há poucos dias e a sua identificação envolveu historiadores que confirmaram que estas eram as 'Fontes de João Dinis'.

As últimas fotos em que aparecem datam da década de 30 do século passado, antes da construção da Avenida do Mar. A marginal do Funchal, construída num nível superior ao da Rua das Fontes, terá sido responsável pelo desaparecimento e esquecimento deste local. Aqui, durante séculos, vieram beber homens e animais.

Fotos do início do século XX confirmam que as fontes eram muito utilizadas e estavam em bom estado de conservação.

O gabinete de arqueologia da CMF está a preparar uma proposta para recuperar o local e deixar á vistas os fontanários.

O jardim que se encontra junto ao Palácio de São Lourenço deverá ser mantido parcialmente, mas um dos objectivos desta obra será a recuperação da calçada de calhau rolado que durante séculos esteve naquele local.

Entrada pela Rua das Fontes



Rui Carita, num primeiro comentário enviado à autarquia, confirma que estas fontes foram mandadas construir em 1490 e que foram alvo de diversas obras, ao longo de cinco séculos.

O historiador considera importante recuperar as fontes o que também seria uma forma de dar outra dignidade à própria fortaleza de São Lourenço que viu, ao longo dos anos, a altura da sua muralha muito reduzida.

O acesso ao local, que ainda é visível, era feito pela Rua das Fontes, mas foi encerrado há muito tempo. Esta deverá ser outra das alterações a efectuar.

As fontes parecem, numa primeira observação, em bom estado, embora sejam necessárias várias obras neste local.

A recuperação deste espaço permitirá, segundo a CMF defender o património histórico e criar mais um motivo de interesse turístico no centro da cidade.

Desta água...



As famosas Fontes de João Dinis, a que a população citadina recorria para matar a sede e para, em final de jornada de trabalho na baixa, aplicar uma primeira 'demão' higiénica, primavam pelos remoques políticos que inspiravam.

Nos ambientes escaldantes de luta partidária no século XIX e nas primeiras três décadas do século XX, pululavam cliques, grupelhos e aparelhos que tratavam de arrebanhar as influências de cada governador que o centralismo lisboeta ia enviando para cá. De início, o inquilino do Palácio de São Lourenço pretextava neutralidade e respeito por todas as facções em compita, sem privilégios a quem quer que fosse, do partido do governador ou de outros. Mas, com o avançar das jantaradas, passeatas e bailes, em breve Junta Geral e Câmaras tinha a mandar os amigos do costume. "Este também já bebeu das Fontes de João Dinis", dizia então o povo do governador.

Hoje dão-se situações parecidas, como se sabe, com titulares colocados cá. Vemos até políticos da capital que nos visitam por escassas horas e partem anestesiados pelo encantamento das fontes, apesar de soterradas até há um par de horas.


DN Madeira

Sem comentários:

Enviar um comentário

Não serão aceites comentarios de anonimos