segunda-feira, 22 de março de 2010

Travar erosão é prioridade das Florestas

O combate à erosão e a recuperação das serras do Funchal e do Curral das Freiras levaram o Governo Regional, através da Direcção Regional de Florestas, a proceder nos últimos anos à plantação de 500 mil plantas







A delapidação das serras madeirenses, em particular no concelho do Funchal, foi um processo que durante séculos decorreu em consequência da deflorestação para produção de combustível doméstico e industrial, pelo pastoreio selvagem de ovelhas, cabras e porcos e por acção dos incêndios.
Reza a história da Madeira que o carvão utilizado nas casas e nas indústrias existentes na ilha, era produto da lenha cortada nas serras. Ilustrações do final do Séc. XIX e princípio do Séc. XX mostram uma delapidação do património florestal e natural da Região, com grande expressão nas serras sobranceiras ao concelho do Funchal.
A situação agravou-se nos períodos das duas grandes guerras mundiais, devido ao bloqueio a que a ilha esteve sujeita, nomeadamente por ter ficado impedida de receber carvão de pedra para algumas fábricas e navios a vapor que aportaram ao Funchal. Há registos de quantidades apreciáveis de lenha cortada para abastecer unidades fabris da Região e as embarcações da época.
Esta resenha histórica leva-nos a entender algumas das razões pelas quais as serras estão ainda hoje despidas de coberto florestal e vegetal.
Para o director regional de Florestas, Rocha da Silva, importa travar a erosão e proceder à recuperação das encostas nas zonas localizadas a cotas mais elevadas da Madeira. «Esta tem sido uma prioridade do Governo Regional, desde há alguns anos. Efectivamente, e a par da proibição da apascentação desregrada de cabras e ovelhas, diversas foram as medidas tomadas no sentido de recuperação de todo esse espaço florestal», realçou ao Jornal da Madeira, a propósito do Dia Mundial da Floresta que se assinala hoje
Rocha da Silva revelou as principais áreas de intervenção da Direcção Regional de Florestas: Combater e travar a erosão; salvaguardar o património e expandir a biodiversidade; reconverter determinadas ocupações de solos e, finalmente, promover o estudo e o conhecimento da flora.
«De forma pragmática temos de segurar o solo onde ele está e isto tem como efeito imediato a salvaguarda de populações que estão a juzante dessas áreas, como também contribuir para o aumento dos recursos aquíferos», destacou referindo-se ao trabalho a ser feito para combate à erosão.
Por outro lado, referiu a necessidade de continuarem no terreno as medidas de protecção, controle de cortes e a prevenção de incêndio, realçando que neste capítulo, com a retirada dos 50 mil animais das serras até 2003 «a Região encerrou um capítulo».
Rocha da Silva entende ainda ser importante a reconversão de algumas ocupações de solos, não apenas de eucapiltos e de acácias, mas também de canaviais, silvados e zonas de carqueja.
Porque se trata de «um trabalho contínuo que não se esgota numa geração», há que continuar o estudo da flora e dos valores naturais, actualmente protagonizado, entre outros, pelo Jardim Botânico.
«O simples processo de travar a erosão pode levar algumas gerações», realçou Rocha da Silva. «Vai ser sempre necessário apostar no recrutamento de recursos humanos e da sua formação para trabalhar nesta área».

Projectos Co-financiados executados entre 1997 e 2010

Complementarmente às intervenções co-financiadas foram efectuadas intervenções específicas nomeadamente a instalação de cerca de 3.000 plantas indígenas nas zonas inicialmente intervencionadas com espécies adequadas estando em curso um procedimento que visa intervir numa parte daquela área para controlar a expansão da giesta.
Finalmente, ao longo deste período, foram ainda recuperadas cerca de sete quilómetros de levadas e instaladas 11.330 árvores nas suas margens.

900 hectares arborizados nas serras


O Paul da Serra tem também sido alvo de especial atenção no que se refere a acções de arborização. Nas
acções de arborização que se vem efectuando tem-se recorrido a diversas espécies consideradas como as mais adequadas para a recuperação do solo e do coberto vegetal do Paúl da Serra.
Além das acções de arborização descritas para as Serras de Santo António e Serras de São Roque e para o Paul da Serra foram ainda executados os seguintes projectos:
No perímetro Florestal do Lombo do Mouro foi recentemente arborizada uma área de 2,2 hectares desprovida de vegetação. No perímetro Florestal do Poiso e na Zona das Funduras foram também recentemente executados projectos de arborização em zonas desprovidas de vegetação num total de 43 hectares. No Perímetro Florestal de Santana foram recentemente efectuados projectos de arborização numa área total de 10 hectares.
Todas estas intervenções vêm assim de encontro aquilo que é tecnicamente assumido como um manancial de
oportunidades proporcionado pela floresta onde aliado aos aproveitamentos tradicionais (regularização hídrica, captação de água, combate à erosão e material lenhoso) se associam todo um novo conjunto de aproveitamentos emergentes, nomeadamente os associados ao lazer e à paisagem. Nas zonas florestais localizadas a cotas mais elevada na ilha da Madeira foram recentemente arborizados no âmbito de projectos florestais mais de 900 hectares.

Arborização das serras feita com 500 mil plantas

As áreas florestais sobranceiras ao Funchal e Curral das Freiras (no que se refere ao topo leste desta freguesia) são zonas onde o Governo Regional tem vindo a promover medidas tendentes à recuperação do coberto florestal e vegetal.
No sentido de legitimar administrativamente a intervenção naqueles locais, foram celebrados protocolos com as Associações e Comissões de Levadas, e foram adquiridos e expropriados terrenos que vieram assim permitir que actualmente esteja a Região com a posse e/ou gestão naqueles locais de aproximadamente 1.760 hectares.
«Recentemente foram expropriadas 25 parcelas de terrenos florestais nas serras de Santo António, sendo esta medida importante para garantir a eficácia da recuperação que se pretende», revelou Rocha da Silva.
Segundo o director regional de Florestas «este esforço começou nestes locais de forma concreta a 6 de Agosto de 1997 com a celebração de um protocolo para a recuperação biofísica do Montado do Paredão com a Comissão Administrativa da Levada Nova do Curral e Castelejo, a Comissão da Administrativa da Levada dos Piornais e a Associação de Regantes da Levada do Poço do Lombo e Paredão que permitiu nesse ano a intervenção em 108 hectares e plantação de 36.975 plantas».
Tal como referiu «este esforço continuou nos anos seguintes em outras áreas existentes nas serras de Santo António e de São Roque existindo diversos projectos de arborização realizados naquelas áreas».
Da estratégia seguida e consequente implementação de medidas de gestão florestal adequadas resultou que, desde o início do processo de recuperação, tenham sido intervencionados, nestas zonas, com recurso a fundos comunitários uma área que ascende a 516,88 hectares, com a plantação de 462.946 plantas complementado por 7,6 km de novos acessos que posteriormente foram beneficiados em termos de pavimento com a colocação de "tout-venant" numa extensão de aproximadamente seis quilómetros, pela construção de dois aquedutos (um no leito da ribeira de Santa Luzia e outro num dos afluentes da mesma ribeira), pela construção de 5,5 km de vedação e 7 pontos de água.



Jornal da Madeira

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