A bordo da Sagres que iniciou viagem de circum-navegação de 11 meses
O navio escola português Sagres estava fundeado à frente do Lazareto, no Funchal, num mar calmo. Uma pequena canoa tradicional da Madeira aguardava junto a bombordo para proceder ao desembarque de uma pequena pipa de 55 litros com vinho Madeira, casta Malvasia de 2000. Sem sobressaltos, em poucos minutos estava a bordo onde seria amarrada a um dos mastros para seguir na longa viagem de circum-navegação que o ex-libris da Marinha Portuguesa irá fazer durante os próximos 11 meses.
A ideia é fazê-lo apanhar sol e beneficiar da ondulação e, depois fazer regressar o vinho à Madeira. Um processo feito em séculos anteriores e que tinha o nome de “Vinho da Roda”.
A passagem pela Madeira não estava programada na viagem que deveria ligar directamente Lisboa a Salvador da Bahia, no Brasil. Foi uma opção tomada para proceder unicamente ao embarque do vinho Madeira. Por isso mesmo, o veleiro esteve na baía do Funchal pouco tempo antes de retomar a viagem que irá demorar cerca de 23 dias até chegar ao continente sul-americano.
A presidente do Instituto do Vinho, do Bordado e Artesanato da Madeira reconhece que o embarque do vinho Madeira a bordo da Sagres tem um grande simbolismo histórico e cultural, na medida em que “procuramos recriar a epopeia do Vinho da Roda. De certa forma, recuamos ao século XVIII, quando o vinho embarcava nos veleiros com destino à Índia, com o objectivo de fazer a viagem de ida e de regresso, depois dos produtores se aperceberem que a passagem pelos trópicos, com o calor e o balanço, conferiam propriedades ao vinho, permitindo envelhecer prematuramente. Pelo que era um vinho muito valorizado”.
Paula Cabaço recorda que o Vinho da Roda chegou a custar o dobro em relação ao não fazia o circuito.
Além disso, acentua que o vinho a bordo representa uma oportunidade muito grande do ponto de vista promocional na viagem em volta da Terra. Inclusivamente evidencia que foram embarcadas garrafas de vinho que serão servidos nas diversas escalas.
Quanto ao Vinho da Roda, diz que a viagem tem um carácter experimental já que o lote embarcado, no regresso, será comparado com um igual que permanece na cave do instituto.
Deixou claro que não será comercializado. Vai ser engarrafado, mas irá ficar no IVBAM para ser oferecido em ocasiões simbólicas.
Em relação à casta do vinho que já viaja a bordo da Sagres, a Malvasia, acentua que foi escolhida por ter sido aquela que deu a fama e o nome ao vinho Madeira no mundo. Além do carácter simbólico, por ter sido o Infante Dom Henrique, figura de proa da caravela, que introduziu a casta na ilha, vinda de Creta.
Sem levantar a ponta do véu, deixou no ar em aberto algum reforço desta parceria. “Se calhar ainda vamos ter mais novidades este ano na Sagres”, o que acontece depois de ter conversado a bordo com o comandante do veleiro Proença Mendes, que, ironicamente disse que, infelizmente, o vinho terá de voltar.
Quanto à ideia de fazer o Vinho da Roda nesta longa viagem disse que foi uma oportunidade. Recordou que a viagem, em parte, é patrocinada por apoios externos. E, nesse âmbito, referiu que o instituto viu uma oportunidade de se juntar. “Porque nós ao promovermos um produto genuinamente português estamos a cumprir a nossa missão de diplomacia económica. E temos muito gosto e muita honra em ter Vinho da Madeira a bordo”.
Refira-se que, além da pipa, foram embarcados 30 garrafas de vinho Madeira.
Jornal da Madeira
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