segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Milhares foram ao 'panelo' (Chão da Ribeira)















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Data: 25-01-2010

Tomás Telo é um menino de apenas tem três anos de idade e viu ser celebrado o seu aniversário no dia de ontem no Chão da Ribeira, no Seixal, curiosamente no dia em que também se assinalava a celebração da tradição popular da festa do 'panelo'.

A mãe, Sandra Telo é natural da localidade e organizou uma festa com bolo de aniversário. Rui Martins, um amigo da família diz já ter cantado uma "560 vezes os parabéns a você", mas como o DIÁRIO estava presente o Tomás merece que lhe seja cantado mais uma. Desta, o rigor foi levado mais a sério. "Onde está a vela?", questionava a mãe.

Metros mais abaixo, outro 'panelo', mas sem aniversariante. Rui Nelson é o 'festeiro' que chama ao seu palheiro mais de 150 pessoas justamente o mesmo número de litros da panela gigante que Rui Pestana tem à sua responsabilidade. Lá dentro, muitas semilhas, carne de porco e de galinha, três variedades de chouriço, batata doce... e algumas couves vindas do Jardim da Serra. A doença e ainda a praga de coelhos e de pombos selvagens quase levavam a que este ano a receita não incluísse os grelos. "Foi realmente muito difícil conseguir arranjar. Até ontem não tinha ainda garantido", confirma o proprietário-anfitrião.

Ao 'panelo' viajam milhares de madeirense. Da Ponta do Sol, por exemplo é hábito o grupo dos 'seca pipas' levarem os seus instrumentos musicais e passarem de palheiro em palheiro. Jaime Gonçalves e Duarte Inácio confirmam a tradição. Antes, fazem questão dedicar uma música ao DIÁRIO. "Vimos da Ponta do Sol para a festa do 'panelo', estamos no Chão do Ribeira para comer o grelo", versos acompanhados com os acordes de acordeão, violas e ainda das indispensáveis matracas.

Beatriz Silva, porventura a mais idosa do grupo, assistia alegremente sentada num lugar estratégico e que lhe permitia ter o controlo da panela e das peripécias que iam acontecendo à frente de si. Desde que se recorda, diz que por esta altura sobe ao Chão da Ribeira. "É verdade. Já lá vão muitos anos". Tão antigo que não sabe precisar: "É do tempo dos meus pais que fazíamos isto. De uma maneira diferente, é certo, e com menos gente. Agora, isto é um cartaz que ajudou a colocar a freguesia no mapa", sustenta com convicção.

De acordo com os depoimentos auscultados, a estimativa é que foram muito mais que os 5 mil visitantes avançados por Emanuel Baptista, presidente da Junta de Freguesia.

Depois de três horas ao lume de lareira improvisada a panela de Rui Nelson está pronta para ser vertida autenticamente em cima da toalha de linho. Tudo como manda a tradição. Antes, prepara o terreno com feiteira seca. Depois, cada um come o que pode e alguns até o que não podem.

Muitos desconhecem as origens da festa, mas todos os anos afluem aos milhares. A variante ao Chão da Ribeira acaba por ser pouco extensa para açambarcar as centenas de carros que ali afluem. Qualquer recanto serve para estacionar. O povo distribui-se pelas dezenas de palheiros e minúsculas casas rurais, muitas das quais recuperadas com pedra aparelhada, como se de pequenas aldeias se tratassem. Não falta música, alegria e convívio na evocação do 'panelo'.


DN Madeira

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