Criar 'Ídolos' para 'alimentar' a indústria discográfica
Data: 18-01-2010
Marino de Freitas nasceu no Funchal. E, durante alguns anos, com diversos músicos, alguns de saudosa memória, tocou em unidades hoteleiras. Mas, foi fora da Região que atingiu o reconhecido. Actualmente, passa mais tempo no estrangeiro do que em Portugal (ver destaque). Mesmo assim, vai vendo os concursos de novos talentos que proliferam nos canais televisivos. "Vivo pouco em Portugal porque o meu local de trabalho é o Mundo. Não tenho acompanhado de perto esses concursos, embora, por vezes, os veja", começou por justificar. "Mas, não gosto de ser desmancha prazeres, porque já tive a idade desses concorrentes que sonham com o mundo 'encantado' das cantigas. Só que se passa uma coisa, e falo concretamente dos 'Ídolos': a maior parte dos participantes, num país pequeno como é Portugal, agarram-se a essa oportunidade que, sem dúvida, é boa, mas devem sair do país. Porque se a aposta é ficar em Portugal, as pessoas estarão sujeitas a serem cantores românticos, ou de massas e, se calhar nem isso".
Continuando, o músico alertou para a face comercial desses concursos, um facto que, no seu entender, condiciona as participações dos concorrentes. "Numa das eliminatórias, vi a actuação de um dos concorrentes, por acaso da Madeira, que interpretava temas mais da área clássica. Mas o júri, não sei se foi o Manuel Moura Santos, afirmou "que se tratava de um programa [o concurso da SIC] para criar ídolos". E acrescentou: "Aqui, a concepção de ídolo terá de ser uma coisa mediática no sentido comercial. E se há uma pessoa a cantar muito bem, mas que não seja o género que alimenta' a indústria discográfica, deixa de ser interessante, o que não acho bem", rematou.
Mediatismo 'mata' qualidade
Questionado sobre o actual panorama musical, Marino de Freitas, que tem assinado a produção de vários trabalhos discográficos, foi objectivo: "A música que hoje se faz é 70% de imagem, 20% de artefactos [som] e só tem 10% de composição. E hoje para se fazer música não é preciso ser músico. Porque há 20 anos, quando estudei música em Londres, tinha colegas que me perguntavam o que eu fazia. E dizia-lhes que era músico. Mas depois vinha a saber que eles eram DJs. Mas a música que se faz hoje, sinceramente, não me agrada, porque tem mediatismo a mais e qualidade a menos". Para o músico, que confessa ser ouvinte da TSF e da Rádio Marginal, "por estar farto de ouvir as 'play-lists'", como explicou, os radialistas mais não são do que meros 'paus mandados'.
"Há programas como, por exemplo, o 'Oceano Pacífico' [RFM] e outros que têm uma criteriosa selecção. Mas, também há programas, durante o dia, onde o radialista está à mercê das multinacionais da indústria discográfica para passar canções que são más. A pop morreu. E o que se faz hoje em Portugal são experiências de laboratório que não vão longe. (...) Porque o que interessa é o sentido mediático das coisas", concluiu.
Projectos para 2010
Nos planos do músico, que recentemente esteve na Região, está a realização de um projecto solidário. "Encontra-se em fase de 'embrião' desde 2008, mas se tudo correr bem espero concretizá-lo com o apoio da sociedade civil nos finais deste ano". E adiantou: "Também quero, dado aos contactos que estabeleci no estrangeiro, criar um 'management' para gerir a minha carreira. E, por via das novas tecnologias, colaborar em trabalhos discográficos, independentemente do facto de participar em espectáculos quer no país quer em outras partes do mundo".
Digressão com Mariza : Arranca dia 19 no Cairo e Prossegue no Reino Unido
Marino de Freitas é um dos músicos que acompanha Mariza no espectáculo 'Terra', um concerto que amanhã será apresentado no Egipto. "Iremos começar um novo ciclo de concertos no Cairo (Egipto)", fez saber. E destacou. "No dia 21, partiremos para Londres, onde estão previstos dois espectáculos no Royal Albert Hall, uma das importantes salas de concertos dessa cidade. E em Fevereiro está prevista uma mini-digressão pelo Reino Unido que integra uns seis ou sete concertos". Mas, apesar de a digressão 'Terra' este ano se centrar na Europa, uma coisa é certa: a comitiva portuguesa irá regressar aos Estados Unidos. "Temos um espectáculo em Novembro no Carnegie Hall, em Nova Iorque. E pelo palco dessa sala, considerada a catedral do espectáculo nos Estados Unidos, passaram nomes como Dean Martin, Ella Fitzgerald e Frank Sinatra para além de muitos outros", acrescentou.
Já sobre a realização de concertos quer no país quer nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, o músico disse: "Neste momento não tenho conhecimento de nada para o continente e também para os Açores e Madeira". Mas não colocou de lado a possibilidade de a digressão 'Terra' passar pelos dois arquipélagos: "A agenda de 2010 começou a ser preparada ainda em meados do ano passado e como é ainda cedo tudo poderá acontecer", explicou.
No ano passado o espectáculo 'Terra' foi apresentado nos Estados Unidos, Canadá, Coreia, Tailândia, Japão e ainda Austrália. "Foram cerca de 140 concertos. Nos Estados Unidos, estivemos por duas vezes. Na primeira digressão fomos também ao Canadá, com uma agenda de 48 concertos, durante três meses. E em Novembro fizemos 15 dias em Nova Iorque. Foi um ano muito preenchido mas também gratificante porque dignificámos Portugal no Mundo".
DN Madeira
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