quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Grupos de música, Feira Etnográfica e Varrer dos Armários marcam o Santo Amaro em Santa Cruz

“Prata da casa” anima a festa






As festas de Santo Amaro decorrem, sobretudo, com recurso à “prata da casa”, explica o presidente da Câmara Municipal, entidade organizadora das festividades.
José Alberto Gonçalves enaltece o facto do concelho ser muito rico ao nível cultural. De tal forma que um dos grupos de destaque no dia da Festa de Santo Amaro, que acontece amanhã, é a actuação do grupo de música tradicional Encontros da Eira, oriundo da Camacha.
Até o próximo domingo, os santacruzenses, e não só, vão poder apreciar as três bandas filarmónicas do concelho, grupos de folclore e grupos de música tradicional.
Para fazer face ao mau tempo que se tem feito sentir foi montada uma grande tenda junto ao Mercado Municipal. Ao redor encontram-se dispostas 40 barracas com as iguarias gastronómicas que são habituais neste tipo de certame.
Ao nível desportivo, de destacar neste sábado, o Jogo de Veteranos que será disputado entre o Sporting Clube Santacruzense e o Clube Santacruzense de Londres, no Complexo Municipal das Eiras.
O presidente da autarquia santacruzense considera que ainda existe muito carinho por esta festa, por parte dos filhos desta terra. “Há emigrantes que vêm da América e de Londres para viver esta homenagem ao seu Santo Amaro”, apontou.
Do programa da festa, destaque ainda para uma corrida de atletismo desde o Caniço até a cidade de Santa Cruz (dia 17) e a final do Concurso “Vozes do Concelho”, a par do sorteio dos três prémios da campanha lançada pela Câmara “O que é nosso é bom”, cujo objectivo foi motivar os residentes, e não só, a consumirem no concelho. Cada 10 euros em compras dá direito a um cupão que habilita ao sorteio.
As crianças das escolas do concelho deslocam-se hoje ao centro da cidade, nomeadamente, à tenda junto ao mercado, onde irão mostrar as vassouras e canções que prepararam para varrer os armários.
No entender do edil, esta actividade “demonstra a vontade de manter uma tradição que continua forte e viva” tendo reiterado que “é bom que as crianças assumam o que é esta cerimónia de varrer os armários”.

Feira Etnográfica frente à igreja

A Feira Etnográfica está a funcionar, desde ontem e até ao próximo domingo no jardim frente à igreja. A feira denominada “O nosso concelho” mostra desde a gastronomia aos licores da festa, a par de algumas actividades tradicionais ao nível do artesanato.
Este percurso pelas tradições do concelho é uma forma de manter viva as festas em honra de Santo Amaro, pelo qual as pessoas sentem grande devoção.
“Todos sentimos que Santo Amaro é um santo que cai bem nas pessoas e que tem, sobretudo, uma palavra e um consolo, porque foi um santo que deu apoio, porque nós, em certas alturas da vida, precisamos de apoio seja de quem for, seja de que entidade for porque nos sentimos pequenos e fracos para enfrentar as dificuldades que a vida nos traz”, sustenta.

Grupo das Romarias varre os armários


A festa em honra de Santo Amaro termina no próximo domingo com o tradicional Varrer dos Armários. A iniciativa tem início pelas 20.30 horas e será orientada pelo Grupo de Romarias Antigas do Rochão (Camacha).
Humberto Jesus, responsável pelo agrupamento explica o significado do varrer dos armários: “É praticamente varrer os restos da festa, desde os licores às broas”.
O varrer dos armários procura demonstrar simbolicamente o que, em tempos, as pessoas faziam, que era visitarem-se umas às outras comendo e bebendo o que tinha sobrado da festa.
Neste dia, o grupo vai percorrer todas as barracas que estão montadas frente à igreja de Santa Cruz que disponibilizam um pouco de tudo o que é tradicional nas várias freguesias do concelho desde a sopa de trigo ao bolo do caco, passando pelos bordados e o tear entre variadas peças de artesanato como sejam as colheres de pau.
A Santa Casa da Misericórdia de Santa Cruz, também, marca presença com uma barraca. Cada barraca vai estar preparada com algumas iguarias típicas da época natalícia que, de uma forma simbólica, irão dar a provar à romaria que seguirá de vassourinha na mão, simbolizando o varrer os armários.
Na comitiva, juntam-se as entidades oficiais que costumam acompanhar esta actividade simbólica.
Desde 1985 que este agrupamento participa nestas festas, com o apoio da autarquia. Humberto Jesus sublinha a importância deste apoio para a realização desta festa, nomeadamente, a feira etnográfica. Num determinado ano, não se realizou e as pessoas sentiram a falta, de maneira que desde então nunca mais houve interrupções porque “é o que lembra esta época festiva do fim da festa”, sustenta.
Este camacheiro recorda que há uns bons anos atrás havia um forte hábito das pessoas se visitarem umas às outras.
Muitos dos familiares que, ainda, não haviam feito a visita do Natal até o Dia de Reis, aproveitavam até ao Santo Amaro para o fazerem, no tradicional varrer dos armários.
No entanto, está ciente de que as pessoas tinham mais tempo para se visitarem umas às outras, o que não acontece tanto nos nossos dias, sobretudo, devido aos compromissos a nível profissional. Mas há ainda muitas famílias que se visitam umas às outras.

Festa na Camacha prolonga-se até o Santo Antão

Na Camacha, por exemplo, a festa ainda se prolonga até o último domingo de Janeiro, dia em que os camacheiros celebram a festa em honra de Santo Antão. “Só nesta altura é que a maior parte das pessoas desmancha o presépio”, refere.
Em tempos, faziam-no entoando quadras como esta: “Senhor Santo Antão/é nesta festinha/Que eu varro os armários/desmancho a lapinha”.
Outras quadras far-se-ão ouvir no próximo domingo, em Santa Cruz, por entre alguns doces e licores: “Broas, bolos e aguardente/licores que ainda resta/Venha hoje tudo cá para fora/que está terminando a festa”.
Diz, também, outra quadra: “Queremos ver nessas caras/sorrisos de alegrias/Venham varrer os armários/com o Grupo das Romarias”.
O grupo, também, costuma cantar uma outra canção, junto do presépio, que era entoada enquanto se recolhia as figuras típicas como sejam os pastores. A cantiga começa assim: “Senho Santo Antão/é nesta festinha/Que eu varro os armários/desmancho a lapinha”.



Jornal da Madeira

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