sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Entrevista ao Jogador Venezuelano/Madeirence Danny

Tão perto da Juventus, Barça e Chelsea
2009 teve de tudo. cobiça dos gigantes, lesão e até o regresso foi uma hipótese

Data: 01-01-2010






Lesionou-se com gravidade, recuperou em quatro meses, mas quando estava apto para voltar à competição não pôde fazê-lo. O motivo? O contrato entre o Zenit São Petersburgo e a seguradora não permitia que voltasse, sequer, a treinar-se, nos seis meses após a lesão. Pior. Não fosse a rotura dos ligamentos cruzados anteriores no joelho, teria ido para o Chelsea. Depois de recuperado, esteve na mira do Barcelona. Antes, já a Juventus tinha demonstrado interesse. Para Danny, 2009 é um ano recheado de histórias para contar.

Esteve sete meses afastado dos relvados. Está pronto para voltar em força? Sim... Agora quando regressar ao trabalho no Zenit vamos ver como é que o joelho vai reagir. Como na Rússia, o início do ano é de pré-época, todos os jogadores vão começar do zero. Penso que vou me sentir bem e apto para voltar ao trabalho a 100 por cento.

Como viveu esse período? No princípio foi muito difícil. No momento em que soube que ia parar quatro meses, fiquei preocupado, porque ia deixar de fazer aquilo que mais gosto. São infelicidades que acontecem. Só temos de levantar a cabeça e seguir o nosso rumo para voltar com total confiança. O apoio da família foi fundamental.

Foi o pior momento da carreira? Foi. Nem no período em que estive no Sporting, praticamente sem jogar, vivi um momento tão mau como estes últimos meses. Uma lesão desta gravidade não encontra comparação.

A lesão irá condicioná-lo no regresso. Terá algum receio? Acho que sim. É natural. Mas quando estiver a treinar com a equipa, penso que vou esquecer que fui operado. Quando regressar ao Zenit, em Janeiro, vamos ver se volto a ganhar confiança rapidamente.

O facto de fazer a pré-temporada no regresso após lesão é um aspecto positivo? Considero que sim, porque vamos iniciar os trabalhos ao mesmo tempo e não serão notadas diferenças a nível físico. O joelho está a 100 por cento, agora resta-me recuperar a confiança.

Como é estar por fora a ver os jogos. Tanto no Zenit, como na selecção? É difícil. Quando o Zenit veio jogar com o Nacional, para a Liga Europa, foi muito complicado ficar de fora. Fiquei triste por não ter jogado essa eliminatória. Tenho toda a minha família na Madeira e era uma boa oportunidade para me verem jogar, já que, normalmente, apenas têm a hipótese de seguir os meus jogos pela televisão. Na selecção, sofri bastante por não poder ajudar, principalmente nos jogos decisivos frente à Bósnia. Mas temos de lutar e ajudar a equipa por fora.

Há muita ansiedade?
Após um mês e meio de recuperação já queria voltar a jogar. Na altura, o fisioterapeuta António Gaspar disse-me para ter calma, que esta é uma lesão que obriga a, pelo menos, quatro meses de recuperação. No entanto, quando já estava recuperado e voltei à Rússia disseram-me que não podia jogar ainda, devido a questões relacionadas com o seguro. Aconselharam-me a voltar a Portugal para estar com a família, já que não podia jogar naquele momento. Foi muito mau. Outros jogadores recuperaram em quatro meses e voltaram a jogar. Eu não podia fazer o mesmo. Perguntei se estavam a brincar comigo. Disseram-me, então, para voltar em Janeiro, no início da nova época.

"NÃO QUERIA VOLTAR PARA RÚSSIA"

É muito frustrante uma situação como essa... Nas primeiras duas semanas, depois de voltar para Portugal, estava mesmo bastante zangado com tudo. Os próprios jornais da Rússia consideravam aquilo uma vergonha. Por outro lado, também permitiu-me passar mais tempo com a família e isso também ajudou-me na recuperação.

Nessa altura surgiu a hipótese de ingressar no Sporting. Falou-se também no FC Porto e até no Marítimo. Foram hipóteses reais? Foram. Logo no momento em que não fui autorizado a voltar à competição no Zenit, disse ao meu empresário para procurar outras soluções em Portugal, Espanha, Itália... Estava mesmo chateado e não queria voltar para a Rússia. Alguns presidentes de clubes falaram com o Jorge Mendes... mas nunca contactaram o Zenit para saber se havia alguma possibilidade de me emprestarem a outro clube. Também não iam deixar sair um jogador que custou 30 milhões assim... a custo zero. Disse ao presidente do Zenit que queria ir embora durante seis meses e voltar após o Mundial, caso lá fosse. Só queria jogar e lutar por objectivos.

Existiram contactos concretos? Sim. Mas nunca nada chegou ao Zenit.

De Portugal também?
Sim, do Sporting, Sporting de Braga...

Do Marítimo? Sim também. Foram estes os três clubes que contactaram o meu empresário.

Mais ainda há possibilidade de seguir outro rumo, para já? Não... Agora estou concentrado no regresso à Rússia e essa possibilidade não se coloca.

Alguma mágoa por não se ter concretizado nenhuma dessas hipóteses? Estou num grande clube, que habitualmente está presente nas competições europeias e não me preocupo por ter sido este o desfecho. Tenho 26 anos, ainda tenho muito tempo para jogar e vou voltar para a Rúsia, tentar ganhar o meu lugar, para estar presente no Mundial.

Mas em vésperas de Mundial, o regresso a Portugal não seria o melhor? Talvez. Nunca sabemos. Se calhar se não me tivesse lesionado, já não estava no Zenit... Tive oportunidade de ir para Portugal, mas não aconteceu. Vou voltar para a Rússia, com confiança. É um clube que me trata bem e espero voltar a estar a 100 por cento para dar alegrias ao meu clube.

Antes da lesão, o Chelsea mostrou interesse. Como é que tudo aconteceu? Estava tudo acertado com o meu empresário. O Zenit já sabia do interesse e o Chelsea só estava à espera que o campeonato inglês terminasse. Depois aconteceu a lesão e quiseram saber qual a gravidade. Como era idêntica à do Paulo Ferreira, desistiram, pois não iam dar 30 milhões por um jogador lesionado. Mas a vida tem destas coisas. Esteve perto, mas se não aconteceu é porque esse não era o momento.

Depois surgiu o Barcelona? É verdade. Existiram contactos entre o meu empresário e o director-desportivo do Barcelona, Txiki Beguiristain. Foi numa fase em que estava a terminar a minha recuperação. No início de 2010, com a Taça das Nações Africanas, não iam poder contar com alguns jogadores e precisavam de colmatar essas ausências. Não ia ser titular e, por um lado, não me convinha ser emprestado durante seis meses para não jogar. Fiquei muito contente pelo interesse de um clube como o Barcelona, mas também ir para lá para não jogar, não era algo que me agradasse. Para ser titular seria diferente... Quer dizer, ia trabalhar para sê-lo, pois não sou inferior, nem superior aos que lá estão. Ia mostrar o meu valor, para tentar ganhar um lugar...

Mas porquê que o empréstimo não foi consumado, uma vez que estava praticamente recuperado? Não me deixariam ir embora. Antes já tinha dito que queria ficar em Portugal... Simplesmente para jogar, mesmo que não fosse num 'grande'. Se dissesse que pretendia ir para o Barcelona por empréstimo, não aceitariam e só me deixariam ir se pagassem. Até porque querem que eu vá ao Mundial, enquanto jogador do Zenit, não emprestado a outro clube. Fiquei triste, como é natural, pois o Barcelona é um grande clube. De qualquer modo, da parte do Zenit, nunca ninguém me disse que existiam contactos do Barcelona.

O interesse manifestado pelo Barcelona é anterior ao dos clubes portugueses? Sim... Mas tive de dizer que os clubes portugueses foram os primeiros a mostrarem interesse. Só depois poderia referir que o Barcelona também estava interessado.

Houve outro clube interessado? Sim, a Juventus também mostrou interesse no mercado de Inverno 2008/2009. Ofereciam 20 milhões, mas o Zenit foi intransigente e pediu 30 milhões. Mas mesmo assim não estariam dispostos a negociar. Em Fevereiro, tentaram novos contactos para a minha transferência no Verão deste ano. Mas o Zenit não cedeu, a Juventus acabou por optar pelo Diego e, entretanto, também apareceu o Chelsea e um campeonato que me agradava mais. Gosto da Liga italiana, mas não me chama tanto à atenção.

Tem preferência por algum campeonato? O futebol espanhol é muito bonito, com técnica e qualidade. Mas o futebol inglês é muito rápido. Têm sempre os estádios cheios. Espero um dia poder jogar nalgum desses países.

"Os meus filhos queriam que ficasse"

Os gémeos Bernardo e Francisco são o orgulho de Danny e Petra. Por eles, o pai já não regressava à Rússia. Ficava na Madeira, a jogar no Marítimo e assunto mais do que resolvido. No gosto pelo futebol, herdaram os genes do pai. Estão nas escolinhas do Marítimo e para Danny, nada mais especial do que assistir aos primeiros golos e fintas dos filhos. Os últimos meses, em virtude da recuperação da lesão no joelho, foram passados junto da família. Momentos especiais que dão ânimo suplementar. Afinal, os sorrisos de Bernardo e Francisco ajudam a superar qualquer contrariedade.

Uma lesão é sempre negativa, mas por outro lado permitiu que passasse mais tempo com a família. Como foram os últimos meses? É sempre mau uma lesão. Mas felizmente, a direcção do meu clube foi compreensiva. Deixou-me ser operado em Portugal e fazer a recuperação na Madeira, junto da minha família. Os meus filhos adoram que eu esteja em casa e com os treinos e estágios, por vezes, isso é difícil. Já lhes disse que depois do fogo de artifício vou ter de voltar para a Rúsia e eles pedem-me para não ir. Dizem-me para ficar cá, para jogar no Marítimo. Mas explico-lhes que é o meu trabalho e que tem mesmo de ser.

Os seus filhos estão nas escolas do Marítimo. Com tem sido levá-los aos treinos
? Estão lá desde os 3 anos. É um sensação espectacular. Quando eles marcam um golo, fazem as fintas... Nunca incentivei para que fizessem aquilo que eu gosto. Estão no futebol porque, desde muito novos, mostraram esse interesse. Estão sempre com a bola. Quando vão jogar playstation, preferem os jogos de futebol. Espero que possam ter sucesso, mas acima de tudo gostava que estudassem, tirassem um curso. Eu tenho o 11.º ano e gostava de terminar os estudos, pois o futebol não dura sempre. É também uma área onde a sorte conta muito. Eu tive sorte, se calhar outros que possíam ainda mais qualidade já não a tiveram... Espero que eles sigam a carreira na profissão que desejarem e sejam felizes como eu.

Eles contam-lhe quando marcam golos, fazem fintas?
Sim. Aliás, tenho ido vê-los jogar. Têm jeito e nestas idades o mais importante é que se divirtam. Na juventude, jogamos com alegria, criamos amizades. Depois já entram os contratos... Já passa a ser outro Mundo, com outros interesses.

"Com o Van der Gaag a equipa melhorou muito"



Tem muitos amigos no Marítimo... Como analisa a época do seu clube do coração? Começou muito mal com o Carvalhal. Também tinha alguns jogadores lesionados, como foi o caso do Bruno. Com o Mitchell a equipa melhorou bastante e chegou a estar no quinto lugar. Mesmo que agora tenha caído alguns lugares, a distância pontual é mínima. Espero que continuem num bom nível para conseguirem ir à Liga Europa. Penso que o Mitchell e a equipa vão conseguir isso.

Jogou com Van der Gaag. Como é ver um ex-colega a treinar o Marítimo? Conheço o Mitchell há vários anos. Como jogador transmitia muita segurança. Era tacticamente perfeito e é isso que ele esta a tentar fazer agora. Tacticamente a equipa melhorou bastante a defender, mas também ofensivamente. É a equipa que menos faltas faz no campeonato. Isso é sinal de que está a jogar bem... futebol bonito.

Muitos jogadores gostam de acabar a carreira no clube no qual começaram. Tem esse desejo? Gostava de voltar. Mas acabar a carreira não será a expressão mais correcta. Se um dia voltar, quero fazê-lo a 100 por cento. Se não me sentir bem bem, é claro que não virei somente por ser o meu clube do coração. Gostava de voltar a jogar no Marítimo, é claro! Podia ter acontecido agora, não me deixaram. Um dia se tiver essa oportunidade, se me encontrar bem, vai acontecer. Por empréstimo seria uma boa hipótese, mas não me passa pela cabeça voltar para já, definitivamente.

"Imaginem três madeirenses no Mundial"





Há pouco mais de dez anos, procurava afirmar-se no Marítimo B, com o objectivo de chegar à equipa principal. Uma década depois, os desafios de Danny são outros. Mais ambiciosos e mediáticos, fruto de um percurso de sucesso, construído sustentadamente e alicerçado numa humildade espontânea, digna de um autêntico campeão, ídolo de muitos, verdadeiro exemplo para os mais jovens.

O jogador madeirense abriu a porta da sua casa ao DIÁRIO e partilhou os desejos para 2010. Ir ao Campeonato do Mundo é um dos seus maiores sonhos, objectivo que espera concretizar na companhia de outros dois madeirenses: Cristiano Ronaldo, pois claro, e Rúben Micael. Danny acredita no título.

O que lhe parece o grupo de Portugal, no Campeonato do Mundo? Não é o mais difícil do Mundial. O Brasil é sempre um candidato ao título. Ali, nascem sempre jogadores com grande qualidade, com escola brasileira. A Costa do Marfim é uma selecção aguerrida, luta muito e tem diversos jogadores que actuam na Liga inglesa e que possuem grande qualidade. Prova disso é o facto de lutarem para ganhar a Taça das Nações Africanas. Já a Coreia do Norte é o adversário mais acessível, mas num Mundial nunca é fácil. Mas com a qualidade que nós possuímos temos de ganhar.

Temos muita qualidade e alguns dos melhores jogadores do Mundo. Os portugueses podem sonhar com quê? Têm de esquecer a fase de qualificação. O Campeonato do Mundo é diferente, a motivação é outra. Estamos num grupo difícil, mas temos a perfeita noção da nossa qualidade. Temos os melhores e vamos lutar pelo título.

O regresso à competição é só em Março. Não é demasiado tempo sem jogar para apanhar o comboio do Mundial? Até para o próprio Pepe não será tarde, se, como todos esperamos, voltar em Maio. Está tudo em aberto. Tenho que voltar e jogar bem, fazer golos e assistências. Também diziam que, pelo facto de estar na Rússia, seria mais difícil ter a atenção do seleccionador. Mas a verdade é que tenho ido à selecção, mesmo estando lá. Se fizer um bom campeonato, penso que o seleccionador irá estar atento e espero ir novamente à selecção.

Não lhe passa pela cabeça ficar fora do Mundial... Pode acontecer. Se as coisas correrem mal no campeonato... Não é por amizades ou empresários que vou ao Mundial. Se lá estiver é porque mereço. Muito outros jogadores também vão dar o litro para merecerem a confiança do seleccionador. Tenho três meses para me mostrar e vou dar o máximo.

É o seu maior sonho? Sim. Tinha o sonho de jogar num grande de Portugal e já o concretizei. Estar na selecção também era outro sonho e já o consegui. Agora estar no Mundial seria o momento mais importante da minha carreira e espero estar lá. 26 anos era a idade perfeita para cumprir esse sonho.

Para além do Danny e Cristiano Ronaldo. Outro madeirense começa a dar nas vistas. Tem acompanhado a evolução do Rúben Micael? É um jogador de grande classe. Sabe ler o jogo e é muito influente no meio-campo do Nacional. De certeza que não irá ficar lá muito mais tempo. Jogar noutro clube seria bom para ele, pois poderia ter mais possibilidade de ir ao Mundial. Espero que ele consiga. Ter três madeirenses no Mundial seria lindo. O Ronaldo já está lá, porque é o melhor do Mundo e merece-o, sem dúvida. Eu e o Rúben, temos todas as possibilidades de ir e vamos trabalhar para isso.

Acredita, então, que vamos ter três madeirenses no Mundial? Claro! São três jogadores com valor e seria bom para a selecção. Para a Madeira também, como é natural. Imaginem o que será se formos os três ao Mundial disputado no país, onde vivem tantos emigrantes madeirenses? Seria lindo.

Pensa que em 2010 Cristiano Ronaldo irá estar ao nível daquilo que fez em 2008? O Ronaldo é um jogador que tem dias maus, como todos os outros. É um ser-humano. Quando corre mal um jogo, os adeptos já começam a criticar. Antes faziam comparações com o rendimento dele no Manchester United. É preciso ver que no clube ele treina todos os dias. Na selecção é diferente, pois torna-se necessário adaptar-se a novos mecanismos, modos de jogo. Em todos os jogos que faz pela selecção, o Ronaldo dá sempre o seu melhor, tenta ajudar a equipa e espero que continue a ser o melhor do Mundo, pois a sua qualidade vai ajudar-nos imenso no Mundial.

Quais são principais desejos para 2010? Muita saúde e paz para a minha família e para todos. Em termos profissionais, espero que seja melhor do que 2009. Sem lesões, acima de tudo. Espero ganhar confiança e ir ao Mundial.


DN Madeia

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