sexta-feira, 13 de novembro de 2009

«Madeirenses contribuíram para progresso de Timor-Leste»

D. Ximenes Belo foi recebido pelo presidente do Governo Regional e diz levar as «garantias de amizade e solidariedade, sobretudo nos aspectos cultural e emocional»


D. Ximenes Belo foi recebido ontem pelo presidente do Governo Regional. No final do encontro, o Prémio Nobel da Paz em 1996 não deixou de apontar o contributo dos madeirenses para o desenvolvimento de Timor-Leste. «Ficámos todos admirados como os madeirenses contribuíram também para o progresso e desenvolvimento de Timor-Leste», disse. Questionado sobre se leva alguma garantia de solidariedade por parte do presidente do Governo Regional, o bispo emérito de Díli disse que são «sempre as garantias de amizade e solidariedade, sobretudo no aspecto cultural e no aspecto emocional, porque Timor está dentro deste mundo lusófono». ~



(Foto PGRAM)

D. Ximenes Belo, que está de visita à Região até ao próximo dia 15 (domingo), foi ontem à tarde recebido pelo presidente do Governo Regional.
O bispo emérito de Díli e Prémio Nobel da Paz em 1996 deslocou-se à Região para a apresentação do livro “Gentio de Timor”, do madeirense (natural de Câmara de Lobos) Armando Pinto Correia, que entre 1929 e 1934 foi administrador da circunscrição civil de Baucau, obra que foi escrita na década de 1930 e que agora é reeditada.
À saída da audiência com Alberto João Jardim, D. Ximenes Belo sublinhou que foi uma visita de cortesia para «saudar o senhor presidente e, na pessoa dele, todo o povo madeirense, e naturalmente também para mostrar de novo a minha admiração por um conterrâneo vosso, Pinto Correia, que esteve em Timor».
Na ocasião, o Nobel da Paz em 1996 disse que Jardim já havia recebido o livro ontem de manhã e o lido e sublinhou também que «ficámos todos admirados como os madeirenses contribuíram também para o progresso e desenvolvimento de Timor-Leste».
Por outro lado, questionado sobre se leva alguma garantia de solidariedade por parte do presidente do Governo Regional, D. Ximenes Belo limitou-se a dizer que são «sempre as garantias de amizade e solidariedade, sobretudo no aspecto cultural e no aspecto emocional, porque Timor está dentro deste mundo lusófono».
A outro nível, questionado sobre se teve conhecimento de algumas iniciativas ocorridas na Madeira quando decorreu o processo para as eleições em Timor, disse que «não tenho».

Lutar pelos direitos humanos

Confrontado com um relatório divulgado ontem em Nova Iorque, em que a Organização Human Rights Watch acusou o Governo chinês de gerir uma rede de prisões secretas onde mantém um grande número de prisioneiros incomunicáveis e em condições desumanas, D. Ximenes Belo frisou que «quando se trata da China ou de outros países um bocadinho mais duros neste aspecto dos direitos humanos, temos de aguardar pelo tempo. Mas isto não quer dizer que tenhamos de desanimar nos nossos esforços de lutar pelos direitos humanos e pela dignidade da pessoa humana».
Segundo a agenda da visita para hoje, D. Ximenes Belo é recebido pelas 11h00 na Câmara Municipal da Ribeira Brava, às 15h00 estará presente no Fórum da Associação de Escritores da Madeira, no Centro Cívico do Estreito de Câmara de Lobos, onde será feita a apresentação do livro “Gentio de Timor”, de Armando Pinto Correia, de seguida visita a Quinta de Santo António, onde viveu Pinto Correia, e, pelas 18h30, participa num encontro com estudantes e professores na Universidade da Madeira.


D. Ximenes Belo foi recebido nos Paços do Concelho
Câmara de Lobos honrado


“Para nós é uma grande honra ter a presença de D.Ximenes Belo no ano em que Câmara de Lobos é Município da Cultura. Este acontecimento fica marcado pela visita do Prémio Nobel da Paz”, disse o autarca Arlindo Gomes aos jornalistas, na sequência da visita do Bispo emérito de Díli àquele Concelho, ontem à tarde.
Recebido nos Paços do Concelho por toda a vereação e convidados que o acompanhavam, D. Ximenes Belo deixou uma mensagem no Livro de Honra do Município e ficou a par da realidade de Câmara de Lobos, no tocante à sua cultura e tradições.
“Nas conversas com o Sr. Bispo procurei dar a conhecer o que é a realidade do Concelho, hoje, o que éramos, as nossas cultura e tradições, para que conheça o que foi a evolução nos últimos anos”, referiou o presidente da Câmara.
“Hoje, somos um Concelho diferente, mas, com certeza, já tivémos os nossos problemas e dificuldades, e conseguimos dar um grande passo”, lembra o autarca. “O senhor Bispo tem um experiência de vida e conhecimento do mundo actual que nos deixa satisfeitos que ele possa comungar desta realidade”, acrescentou Arlindo Gomes.
Após a recepção nos Paços do Concelho, o antigo Bispo de Dílivisitou também a Biblioteca Municipal (inaugurada em Maio passado), “uma referência da nossa cultura”, afirmou Arlindo Gomes.


Bispo emérito de Timor-Leste passeou pela cidade de Câmara de Lobos

Na cidade de Câmara de Lobos, acompanhado pelo presidente do Município local, Arlindo Gomes e demais autarcas, D. Ximenes Belo teve oportunidade de passear por algumas ruas e visitar recantos emblemáticos, zonas privilegiadas de paisagens únicas, que testemunham um passado de tradições e personalidades inesquecíveis do Concelho em geral. Houve ainda tempo para um breve convívio numa esplanada, e cumprimentos a quem por ali passava.


D. Ximenes Belo celebrou em Câmara de Lobos
Em memória das vítimas no cemitério de Díli


Ainda no dia de ontem D. Ximenes Belo celebrou na igreja paroquial de Câmara de Lobos, para lembrar as centenas de “vítimas do massacre de Santa Cruz”, no cemitério de Díli, na sua maioria jovens, ocorrido a 12 de Novembro de 1991.
Na sua homilia, explicou as razões da reacção das populações, nomeadamente dos “jovens resistentes timorenses” que fizeram frente a “um povo grande” que “esmagava um povo pequeno e explorava um território, nessa altura com cerca de 700 mil habitantes”.
“O massacre de Santa Cruz foi precisamente isso, não reconhecer que o povo timorense que tinha as suas tradições culturais e religiosas, recebidas dos portugueses durante 450 anos, esse povo tinha direito a sobreviver e a ser povo com os seus deveres e obrigações. E porque não era respeitado era invadido, era ocupado (pela Indonésia)”.
“Os jovens sempre disseram: nós somos pequenos. Somos pobres, analfabetos, mas temos a nossa dignidade e queremos que os outros a respeitem. E, claro, levantaram-se não com armas na mão, mas pacificamente, no dia em que celebravam o 15.º dia da morte de um colega deles, Sebastião Rangel.”

Massacres continuam
no mundo actual


Além daquele massacre, lembrou o Prémio Nobel da Paz de 2006, “houve tantos outros e mesmo hoje, no mundo, continua a ahver mortes, conflitos e irmãos nossos que morrem defendendo os seus direitos, defendendo a sua liberdade. Todos os dias entram nas nossas casas cenas de violência, de morte, que provêm do Iraque, do Afeganistão, Paquistão, do Darfur... E, portanto, todos estes acontecimentos continuam”.
“Falamos muito da paz, concedem-se muitos Prémios Nobel da Paz, fazem-se acordos de paz e , entretanto, a guerra continua. Até quando? Até quando todos os homens e mulheres se converterem realmente”, alertou o Bispo emérito de Díli (Timor-Leste).
A missa de ontem foi concelebrada pelo Pe. António Freitas, pároco de Câmara de Lobos e participada por entidades oficiais do Concelho, entre outros fiéis.


0 O presidente da autarquia de Câmara de Lobos ofereceu a D. Ximenes Belo uma garrafa de vinho Madeira de 1948, ano de nascimento do Bispo emérito de Díli; e algumas publicações, livros e revistas, que retratam a vida do Concelho de outros tempos e na actualidade, nomeadamente um álbum de fotografias da autoria de João Pestana e a Revista Girão. Ofertas apreciadas por D. Ximenes Belo que agradeceu com palavras de muita estima e consideração.





Jornal da Madeira

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