quarta-feira, 11 de novembro de 2009

São Martinho não cedeu à crise

O Bacalhau não parava no tabuleiro e o vinho novo 'regou' a noite
Data: 11-11-2009



Há 30 anos que não festejava o São Martinho e foi com espetada que ontem o fez no arraial que se formou junto à igreja desta paróquia. Maria Odília Freitas emigrou para a Venezuela há três décadas e dessa altura lembra-se de uma festa diferente da que encontrou no regresso: "Comemorava-se o São Martinho e era bem bonito, com muitas mais barracas e mais gente", contou, por entre um brinde com o vinho novo. O bacalhau tinha-o comido ao jantar do dia anterior e ao almoço de ontem, por isso preferiu matar saudades da espetada. Não foi a única.

Embora fosse o bacalhau o mais procurado - e estava a vender bem, segundo os comerciantes -, a carne de vaca também prometia não ficar pendurada durante muito tempo e em algumas mãos as cervejas rodavam durante uns curtos minutos. "Não somos muito apreciadores de vinho", justificou João Belchior, do Garachico. Passou com os colegas da obra, como é tradição, pelo arraial antes de ir para casa. Quanto ao 'rei da festa', contentavam-se com o 'dentinho'. Para os outros, a solução era passar numa das barracas e esperar.

Por cima das brasas o peixe não vencia a procura. A barraca de Abreu Gomes era das mais procuradas. A crise não lhe bateu à porta: "Compra-se igual", disse, acrescentando que só vai fazer menos porque escolheu estar ali dois dias, em vez dos quatro do ano passado. A provar estavam as pessoas, de braços cruzados à volta do braseiro, à espera.

Elvira Rodrigues foi uma das que não resistiram ao bacalhau de São Martinho. "Gosto pelo arraial, pelo cheiro e ela diverte-se", justificou, olhando para a filha. Na mão, já uma garrafa de vinho novo 'cantava', enquanto o bacalhau era torcido em papel para levar. Feitas as contas - sete euros pelo peixe, cinco pela bebida - "Não fica caro. Só a maçada que isto dá", defendeu.

O tempero e as quantidades trazidas para venda ninguém quis contar. Acreditam os comerciantes que o segredo é benéfico para o negócio.

Entre as pessoas que desfrutvam do arraial estava Rui Faria, que com a família foi cumprir a tradição. Apreciava o vinho novo, enquanto aguardava pela chegada do bacalhau. "O vinho está bom", aprovou, embora não pudesse fazer a comparação com o ano passado, que não pode vir. Já José Camacho, quando questionado sobre a qualidade do vinho, comprado na Calheta e no Estreito de Câmara de Lobos respondeu que "só provando". Este comerciante, contou, não compra sempre ao mesmo porque o mais importante é a qualidade: "Quando não está em condições, ele fica lá", disse.

Fruto dos excessos, houve quem já não conseguisse ir muito longe e ainda só eram 19h30. Nos arredores o trânsito anunciava muita gente e a noite ainda começava. O pico só era esperado pelas 22 horas.

Cortejo do bacalhau

A Junta de Freguesia do Arco de São Jorge adiou para o fim-de-semana a comemoração do São Martinho, que incluirá o 'Cortejo do Bacalhau e do Barril'. A festa no sábado começa às 19 horas com as provas dos vinhos 'Cabeço da Queimada e Pedra de Fogo', pouco antes da concentração dos participantes junto ao Museu do Vinho e da Vinha.

Será ao som da Banda de Nossa Senhora de Fátima que vão percorrer as ruas, bares e algumas casas da freguesia, acompanhados do bacalhau, de velas tochas e faróis antigos acesos. Depois de comer e beber, durante o percurso e na pausa prevista no snack-bar Arco, a festa continua às 22 horas, com a actuação dos Mariachi México Madeira.


DN Madeira

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