domingo, 13 de dezembro de 2009
Viver o Natal com a alegria dos presépios
Desde o ano de 1223, em que São Francisco decidiu representar ao vivo a ocasião do nascimento do Menino Jesus e festejou a véspera do Natal com os seus irmãos e cidadãos de Assis na floresta de Greccio, que os presépios têm constituído a essência do Natal em todo o mundo.
A palavra presépio significa «um lugar onde se recolhe o gado; curral, estábulo». Porém, esta é também a designação dada à representação artística do nascimento do Menino Jesus num estábulo.
Na Madeira e Porto Santo os presépios marcaram sempre presença na época do Natal. Feitos dos mais diversos materiais continuam a ser um dos atractivos tanto nas residências particulares, como nas igrejas e mais recentemente em locais públicos. No tempo em que o plástico ainda não fazia parte do quotidiano das populações os presépios e as lapinhas madeirenses eram construídos à base de papel, pintado com vioxene, sendo as folhas coladas com goma arábica (cola), milho ou papa de farinha.
No início de Dezembro as «vendas» ou mercearias tinham já uma grande quantidade de vioxene, pós brilhantes de diversas cores e cola que serviriam para se fazer a lapinha. Depois de adquiridos esses produtos era altura de se meter mãos à obra e juntar a família para a construção da lapinha. Feita a estrutura que poder ser em madeira, troncos ou cana vieira colocava-se o papel já pintado e enquanto este ainda não secava aplicavam-se os pós de várias cores com destaque para o dourado e prateado. De tanto soprar muitos ficavam com os cabelos e as caras coloridos o que motivava algumas brincadeiras.
Com muito cuidado eram postos os pastorinhos e as imagens diversas com motivos regionais, entre elas a cena da morte do porco e dos arraiais madeirenses com a representação da procissão e da banda filarmónica no coreto. Estes objectos ou já tinham sido adquiridos em anos anteriores ou então renovados com a compra nas casa de especialidade do Funchal.
Para se fazer as ribeiras utilizavam-se algodão e as poças com peixes tinham por base pequenos espelhos que lhes davam aspecto de água brilhante. As casinhas em cartolina também podiam ter sido compradas já feitas nas vendas ou noutros estabelecimentos comerciais ou então recortadas, pois havia cartolinas com desenhos de casas, igrejas e castelos que serviam para o efeito. Com habilidade colavam-se as pontas e logo surgiam bonitas construções.
A gruta onde se colocariam as imagens do Menino Jesus, Nossa Senhora e São José era o centro da lapinha e tinham sempre em lugar de destaque a lamparina de azeite que iria iluminar a cena durante o tempo do Natal. As verduras como as típicas «cabrinhas» e o musgo davam colorido ao presépio. Consoante o espaço das casas os presépios tinham dimensões variadas e eram motivo de admiração dos visitantes em quartos engalanados com alegra campo onde as visitas eram obsequiados com um copinho de licor, bolo de mel ou broas. Para quem tinha menos espaço em casa a solução era fazer a «rochinha». Com socas de cana vieira colocadas artisticamente em foram de pirâmide e em cuja base se deixava espaço para a gruta onde se colocariam as imagens do Nascimento de Jesus. O papel que poderia ser extraído de sacos de cimento ou outros era também pintado com vioxene que lhe dá um tom acastanhado e colado nas socas para depois ser pintado com os pós brilhantes.
Na actualidade ainda são muitas as pessoas que se mantêm fiéis à tradição do presépio «à moda antiga», sendo que em diversas localidades se organizam concursos de presépios e lapinhas nos quais se observam muita criatividade.
Jornal da Madeira
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