quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

"Nunca pensei durar tanto"

Luís silvestre rebelo faz hoje 100 anos. o maior desejo para 2010 é continuar a viver
Data: 31-12-2009



Os anos passam a uma velocidade tal que Luís Silvestre Rebelo já nem os consegue acompanhar. Hoje, dia 31 de Dezembro, completa 100 anos de vida e o facto quase que o apanhou de surpresa. "Eu não sabia se era 99 ou 100, mas penso que agora mais um, menos um é a mesma coisa", confidenciou ao DIÁRIO. Embora a memória já falhe, a aparência está bem conservada e só uma queda, há uns anos, fez com que tivesse de deixar de vez o gosto de andar a pé.

Ontem à tarde, Luís Silvestre aproveitava o calor dos temporários raios de sol para aquecer-se. "Está-me a saber o sol", disse, pedindo inclusive à filha, com quem mora, que não o levasse para dentro de casa. Com a ajuda dos familiares recordou-se de algumas partes da vida, principalmente das noites de São Silvestre, noite essa que lhe deu o segundo nome por ter nascido no último dia do ano. Quando ainda podia, adorava dar fogo. Nas noites de Fim-de-Ano era o rei, nos sucessivos encontros de família que decorriam sempre na casa de uma irmã.

Em novo, gostava muito de andar a pé e praticar desporto. Luís Silvestre considera mesmo que o segredo da longevidade pode estar nestes pequenos pormenores que lhe davam muito prazer. Aliás, guarda muita pena por já não poder fazer as caminhadas que costumava, de casa ao fim do beco onde mora, na Rochinha. Apesar das falhas de memória, deixou também escapar que, em jovem, gostava de passar o tempo a "falar com os amigos e conhecidos". No Verão, o passatempo de eleição era uma ida à praia. "Tanto tempo que já lá foi e que não volta", lamentou, confessando que nunca pensou "durar tanto".

Apesar de ter trabalhado numa outra loja, no Funchal, Luís Silvestre ficou muito conhecido por ter sido gerente, durante largos anos, de uma loja de confecções logo no início da Rua dos Tanoeiros. Dessa altura guarda muitas recordações, em particular do carinho e da afinidade dos clientes da loja. Há menos de meia dúzia de anos, deu uma queda que o privou de vez dos passeios que costumava fazer. Contudo, este não foi o pior episódio. Há mais de 10 anos, Luís Silvestre foi atropelado no Funchal. Em consequência desse acidente, esteve 22 dias em coma. A dada altura, os médicos aconselharam que a família o levasse para casa, já sem grandes esperanças na recuperação. Porém, o cenário inverteu-se. Passados uns dias, as melhorias eram evidentes, para grande espanto dos médicos que o acompanhavam.

De vez em quando, Luís Silvestre Rebelo esquece-se do nome da filha com quem vive. "Lá se foi o tempo em que me lembrava de tudo", justificou-se. Mesmo sem óculos, consegue ler as letras pequenas dos livros. Hoje já não lê tanto quanto antes, até porque a idade levou-lhe, em parte, a vontade.

Em relação ao dia de hoje, ontem à tarde Luís Silvestre não tinha planos, mas a família organizou um almoço para assinalar o 100º aniversário. Para 2010 tem três desejos. "Quero estar com a família, viver e não ficar sozinho porque já não consigo andar", desabafou.


DN Madeira

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