domingo, 20 de dezembro de 2009

Gastronomia especial à mesa do Dia de Festa







O almoço do Dia de Natal tem um significado muito especial para a grande maioria dos madeirenses. É a ocasião em que se reúne a família mais chegada em ambiente de confraternização, em que os que já partiram para a Eternidade são recordados e também não são esquecidos os familiares que se encontram ausentes em países de emigração. Também aí farão o seu almoço de Natal, evocando os tempos em que viviam na Madeira.
Manda a tradição que a ementa dessa refeição integre a carne de galinha e a de porco, não podendo faltar a carne de vinho e alhos, que são confeccionadas de modos diferentes conforme as freguesias, embora se mantenha o essencial.
As tradições da nossa terra estão a ser um pouco ultrapassadas pelas modernas famílias que recorrem aos serviços dos restaurantes para o efeito.
Esta circunstância não acontece na casa de João Freitas que continua a ser fiel àquilo que se fazia nos tempos em que era criança, já lá vão muitos anos.
«No dia de Festa, o meu pai, a minha mãe e os meus seis irmãos almoçávamos todos juntos. Era um dia muito especial e a chegada da hora da refeição era aguardada com muito entusiasmo. Naquele tempo não havia a fartura que há hoje e naquele dia as coisas melhoravam. Era um tempo em que era preciso chegar à Festa para se beber café e cacau» diz-nos enquanto ainda se recorda da ementa desse dia tão especial «a carne de vinho e alhos e a galinha cozida eram obrigatórias no almoço do Dia de Festa. E porque aquelas carnes eram de animais criados em casa o sabor era mesmo muito especial. As semilhas, as couves e as hortaliças acompanhavam a refeição. E na sobremesa a fruta que era mais cobiçada era o ananás, não só pelo gostinho como cheiro».
Maria de Sousa, também mantém-se fiel às ementas próprias de Natal porque «almoçar fora de casa nesse dia não lembra à Festa. A refeição inclui as carnes de porco de galinha e de vaca, não faltando os picles que costumo fazer no início de Dezembro».
Os picles são um condimento inglês baseado num sortido de legumes (ou frutos) conservado por acção do vinagre, cuja a origem nos remete para o tempo do domínio britânico sobre a Índia.
Embora actualmente seja fácil adquirir diversos tipos de conservas, ainda há quem confeccione os seus próprios picles caseiros: utilizando legumes ou frutos de qualidade e um bom vinagre de cidra devidamente aromatizado com canela, pimenta preta, cravinho, noz-moscada e pimenta.
Recorda-nos ainda que «também os torresmos fazem parte da ementa daquele dia. São feitos em casa com a carne de porco, entremeada e com o entrecosto de porco que criamos ao longo do ano, como manda a tradição madeirense».
O almoço do dia de Natal em muitas localidades da nossa terra continua a incluir as cebolinhas de escabeche que servem para acompanhar a carne de vinho e alhos.
Preparam-se no Natal e geralmente no mesmo dia em que se tempera a carne de vinho e alhos e integram vinagre de vinho, cravinho e folhas de louro.
A gastronomia de Natal na Madeira, continua a manter-se fiel às tradições vindas de tempos passados em que esta quadra tinha um sabor muito mais genuíno do que na actualidade.



Jornal da Madeira

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