segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Natal menos consumista era vivido com alegria







Maria Fernandes Aguiar nasceu em São Jorge, no concelho de Santana. Actualmente encontra-se a residir na Ribeira Brava mas não esquece o Natal de outros tempos, o qual passava em casa com os pais.
Na altura faziam o resépio de escadinha, recordou. “Era feito em cima da mesa e eram colocadas diversas coisas ao redor desde brindeiros, rosquilhas, castanhas, laranjas, flores”. Também costumava enfeitar o pinheiro com as tradicionais espiguilhas e bolas.
Na véspera da grande festa, no dia 24, comiam cemilhas novas com bacalhau. Era, também, confeccionada uma canja de galinha para quem quisesse aconhegar mais o estômago.
“Nessa noite, o meu pai não deixava ninguém dormir, podia até estar chuva mas também não deixava ninguém ir à Missa do Galo porque, para chegar à igreja havia duas pontes onde corria muita água quando chovia”.
Houve um ano em que ela e os irmãos tomaram coragem e foram. Apanharam umas canas e, com elas conseguiram passar as pontes, com as botas na mão. Foram à confiança e contentes pois não sabiam se no ano seguinte iam poder ir.
Maria Fernandes Aguiar recorda-se bem como eram as Missas do Galo. “Corriam tantas romagens, tinha uma do Granel, da Lombada do Meio, da Achada do Marques, uma da Tranquada”, enumerou. “Depois da meia-noite até ao amanhecer corriam as romagens, levavam tudo o que Nosso Senhor deparava”.
Chegou a participar na romagem da Lombada do Meio. Levava um pouco de tudo desde pimpinelas, batatas, carne de porco. Apenas uma das romagens levava uma barca, a qual ia pesada com tanta coisa que carregava.
Esta santaneira não gosta de perder a noite, de maneira que no Dia de Natal andava sempre com muito sono. “Eu não gosto de perder a noite e quando perdia o sono não gostava que no Dia de Natal ninguém chamasse por mim, por isso, pedia que me deixassem dormir”, exclamou.
No que toca a prendas “era complicado”, sustentou, mas “no Natal toda a gente tinha roupinha nova, era muito bom, porque muitas pessoas não podiam comprar. Outras coisas não havia para a minha casa”. Maria Fernandes Aguiar tinha três irmãos e uma irmã mas não havia um Natal que passasse que não tivessem roupa nova.
Os tempos eram difíceis mas, sublinhou, “eu não me custava fazer aquela vida, eu gostava de fazer tudo”. Na véspera do Dia de Natal, recorda-se que tinha que se levantar cedo para ir à Missa do Parto, para depois ir amassar o pão. Com o resto da massa que ficava amassava umas rosquilhas, com banha de porco, que hoje em dia foi substituida pela manteiga ou margarina. Também fazia um bolo de família para casa. “Mas à noite não podia ajuntar nada do chão que tinha as costas a doer mas não me aborrecia aquilo”, exclamou.

Semilhas novas e carne de porco no Arco da Calheta

Do outro lado da ilha, o Natal também era vivido com fervor. Maria José Câmara, natural do Arco da Calheta, hoje com 77 anos recorda-se que na altura do Natal “matava-se um porco, às vezes, depois tinha-se que preparar a carne, fazia-se bolos pretos e rosquilhas”.
Era uma época em que havia muitos doces em casa, gostava de ajudar a mãe na confecção da doçaria. Hoje as forças já não lhe dão para isso. “Agora é que já não me dá para fazer nada, já não posso”. Na casa eram sete filhos. Normalmente, passava o Dia de Natal em casa dos pais, nos anos seguintes, por vezes, passava na casa dos seus irmãos.
Quanto a prendas, por vezes recebia “alguma roupa”. Hoje em dia, a filha é quem prepara a refeição no dia de festa. Por vezes é carne assada com semilhas.
No ano passado, foi à Missa do Galo mas este ano, e apesar de não morar longe da igreja, não conta ir porque já não tem tanta força. Recorda com saudosismo os tempos em que ia com energia à Missa do Galo e assistia às romagens. Era festa a noite inteira. “Gostava daquela noite”, exclamou.
Este ano vai procurar viver a grande festa da melhor forma possível. Contudo, ainda não teve tempo para comprar as prendas mas faz contas disso.

Maria Fernandes Aguiar já soma 74 anos mas recorda-se, como se fosse hoje, do Dia de Natal passado na casa dos seus pais, na casa em São Jorge (Santana) onde não faltava o cacau quente. O pai reservava uma aguardente especial para esse dia. “Era aguardente da borra do vinho”, apontou.

Aos 77 anos, Maria José Câmara, do Arco da Calheta lembra-se que, no Dia de Natal eram colocadas a cozer as semilhas novas e uma galinha, para confortar o estômago, com uma canjinha caseira.


Jornal da Madeira

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