terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O Natal No Estreito de Câmara de Lobos , em 1934



Aromas da festa é o que por cá se respira numa profunda agitação. Pelos caminhos encontram-se os rechonchudos e alvacentos sacos que vão em cata do moinho onde a afável mas curiosa moleira sempre inquirindo da engorda dos suínos, para os quais tem esmagado tanto milho, varre apressada as prateleiras que hão-de suster o grão, porque na ribeira, sob a vigilância de uma sua filha, a esperam as colchas que pretende tornar de neve, para enfeite dos leitos nos próximos dias de festa.
Alegre está a criança, porque sua mãe sob um tiroteio de beijos lhe fala da lapinha, dos brinquedos que lhe trará o Menino Jesus, lhe diz, que o forno, esse sombrio compartimento vai despojar as suas negruras para vestir de gala o manto escarlate que lhe dará o fogo como disposição para cozer os bolos e os almejados "brindeiros".
Junto ao casebre, esfrançando e engaiolando a lenha que coserá a consoada na augusta noite de Natal, cantarola o pequeno, exprimindo o seu contentamento pela promessa de uma gaita, com que irá recrear-se e deliciar o ouvido dos seus companheiros. Radiante está a jovem porque em pequeno estojo guarda o fascinante cordão que com o garrido vestido que já confecciona a costureira vai estriar, tudo oferenda de sua mãe como prémio pelos desvelos e carinhos dispensados a seus pequeninos irmãos.
No assobiar, as repetidas árias do seu curto repertório, se nota estar alegre o rapaz, porque a vaca do casal, cuja engorda tanto suor e cuidados lhe há custado, será levada ao matadouro, e com o produto dela, vai seu pai, presenteá-lo com um novo fato, e as luzidias botas com que irá apresentar-se às festas.
Atarefadíssima, mas satisfeita, se encontra a dona de casa com arrumo e preocupações higiénicas desta assim como na preparação dos doces, porque reunirá em ameno convívio para esses dias os afilhados e comadres, vindo estas a apreciar da boa ordem da casa e habilidade para a culinária.
Finalmente animado está o velho porque a sua prole dispersa, adentro e fora da freguesia, virá beijar-lhe reverente a rugosa mão e com o seu carinho suavizar-lhe os sempre tristes dias desta última quadra.
Em suma, todos se enchem desses santos e justos entusiasmos que nos trás a bemdita religião de Jesus, e que ao ímpio não é dado desfrutar. É o que nota aquele que usou fazer de correspondente .

concelhodecamaradelobos

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