A imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima chega hoje ao Funchal. Francisco Leite Monteiro foi testemunha da primeira visita em 1948
Data: 12-10-2009
A Madeira vai ter a honra de, pela segunda vez, receber a visita da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima. Do que foi a primeira visita recordo bastante bem, já se passaram 61 anos, eu era um jovem adolescente, ainda estudante e vivia então no Funchal com os meus Pais e Irmãs.
Em 7 de Abril de 1948, o dia despontou com um sol radioso e, logo pela manhã, entrou no porto o velho paquete "Lima", da Empresa Insulana de Navegação, indo acostar ao molhe da Pontinha. A bordo viajava a Imagem Peregrina que faria daquele data um dia memorável, grandioso para todos os Madeirenses, até mesmo para muitos que não professavam a Fé Católica. Não houve naquele dia de Abril e nos dias que se seguiram, quem ficasse indiferente à presença em solo madeirense da Imagem da Virgem de Fátima.
Para quantos estavam na Pontinha, entre gente do povo e representantes das autoridades locais, compreensivelmente, o auge atingiu-se quando ao portaló surgiu a Imagem da Virgem envolta em orquídeas madeirenses, em andor transportado nos ombros de oficiais do "Lima". Já em terra firme, os oficiais do navio foram rendidos por gente da terra, para se iniciar o percurso, a pé, até à cidade. Muitos eram os que pretendiam assumir a honra de levarem a Senhora de Fátima nos seus ombros e daí terem sido organizados turnos que se revezaram ao longo do percurso. Lentamente, a pé, sempre por entre alas de uma massa humana eufórica, o cortejo percorreu o molhe da Pontinha, subindo a Rua Carvalho Araújo, passando pelo Largo António Nobre, ao Ribeiro Seco e, sempre a pé, prosseguiu pela Avenida do Infante até à Praça do Infante, onde teria lugar a primeira missa campal, em terra madeirense.
Os trabalhos de construção da Praça do Infante não estavam ainda completamente terminados, nomeadamente o seu lago, o que permitiu a montagem de um altar sobrelevado, num arranjo notável que tornou possível o acompanhamento da missa pelos muitos milhares de madeirenses que acorreram ao Funchal e que se espalhavam desde a descida da Avenida do Infante, dominando a Praça e estendo-se depois à Avenida Arriaga e aos arruamentos que davam acesso à Praça do Infante. A missa, presidida por D. António Ribeiro, Bispo do Funchal de então, a que assistiram em lugar reservado junto ao altar, os Governadores Civil e Militar, foi sem dúvida um momento notável que perdura, inesquecível, e que sem dúvida marcou a primeira visita da Imagem Peregrina.
No fim da missa foi organizado novo cortejo que percorreu toda a Avenida Arriaga até à Sé Catedral do Funchal onde a Imagem passou a noite, seguindo-se no dia 8, pela manhã, no adro da Sé, onde se juntou uma nova multidão de fiéis, a celebração de uma Missa dos Doentes, em que muitos deles participaram directamente. Depois da missa a Imagem Peregrina, no seu andor sempre envolta por orquídeas da Madeira, foi instalada no topo de um "jeep" com a matrícula M - 2558, iniciando uma volta completa à ilha, ao longo de 3 dias memoráveis. Poucas terão sido as vilas e lugares do nosso campo, aonde a visita não chegou, obviamente por razões logísticas e porque a rede de estradas não cobria ainda toda a ilha. Desde a entrada nesses lugares até à Igreja local o cortejo levando a Imagem da Virgem atravessou tapetes de flores e passou sob arcos monumentais feitos de verdura, à boa maneira madeirense, sempre saudada por milhares de fieis. Sob um desses arcos um quase acidente ocorreu, quando a Imagem o roçou, tombando do seu pedestal, criando algum susto mas, felizmente, sem consequências. No regresso ao Funchal e, antes de deixar a Madeira, a Imagem Peregrina sempre levada em ombros, participou numa monumental "Procissão das Velas" que terminou no cais da entrada da cidade, onde embarcou com destino a outras paragens na sua peregrinação por esse mundo fora. Passados 61 anos, a mesma Imagem regressa à Madeira, já na próxima semana e, certamente, não faltarão os momentos que ficarão gravados para sempre, na memória dos muitos que os hão de viver.
TAP oferece lugar em 1º classe
A Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima chega hoje à Madeira, por volta das 19 horas.
A TAP ofereceu um lugar em primeira classe e será o piloto do avião que transportará a imagem até à Zona VIP. Aí o bispo do Funchal vai oferecer à tripulação uma imagem da padroeira dos pilotos, Nossa Senhora do Ar.
D. António Carilho saudará também toda a comunidade aeroportuária presente e dirigirá algumas palavras à Comunicação Social. Serão ainda entoados alguns cânticos, a cargo de uma banda filarmónica, que será acompanhada por um coro de crianças das escolas do 1º e 2º ciclo de Santa Cruz e Machico.
A imagem é novamente levada "em mãos" até ao exterior, em direcção ao 'Papamóvel, que a transportará até ao Funchal. O veículo, com escolta policial, partirá em direcção à Praça do Município, seguido por um cortejo de carros.
Às 20h30, terá início a recitação do "Terço Vivo", encenado por jovens, seguido de procissão das velas até ao adro da Catedral, onde voltarão a ser entoados alguns cânticos marianos e orações.
Seguidamente, a Imagem Peregrina entra na Catedral, onde permanecerá até ao dia 18 de Outubro. Nesse dia, às 16h, o Bispo D. António Carrilho presidirá à Eucaristia comemorativa do aniversário da Dedicação da Catedral, com a cerimónia de envio dos catequistas e professores de Educação Moral e Religiosa Católica.
Após a Missa, sensivelmente pelas 17h30, será organizada uma caravana, também com a participação dos Associados do Clube de Motards da Madeira, que conduzirá a Imagem Peregrina até à Igreja da Fajã do Penedo. Prevê-se, igualmente, uma largada de pombos antes da despedida.
Refira-se que a Imagem vai permanecer durante uma semana na Sé, que terá horários prolongados, seguindo depois para as restantes 26 paróquias que irá percorrer durante 7 meses, concretamente até 13 de Maio de 2010.
1948 foi o ano da primeira visita da Imagem Peregrina. Uma data que ainda hoje está "na memória e no coração de quantos nele participaram".
Passados 61 anos, a comissão que organiza a presente visita vai recordar a memória desse evento, através de uma exposição de fotografias dessa época, com alguns textos da escritora madeirense Graça Alves. A exposição está a ser preparada em parceria com a Direcção Regional dos Assuntos Culturais, através do Museu da Imagem, a partir do acervo fotográfico das Casas Vicentes e Perestrellos. A exposição itinerante percorrerá os Centros Cívicos, Casas de Cultura, Salões Paroquiais e outras Instituições, de toda a Região, durante os 7 meses da estada.
Francisco Leite Monteiro
DN Madeira
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