terça-feira, 20 de outubro de 2009

Entrevista a Francisco Muteira Nabo, Presidente da Ordem dos Economista

Francisco Muteira Nabo, presidente da Ordem dos Economista considera que a região, onde terá esta semana o seu 3º Congresso, deve focalizar no turismo, mas também procurar “clusters” onde ganhe vantagens
Madeira deve inovar no Turismo para ser competitiva




A Madeira deve continuar a apostar no Turismo, em mantê-lo competitivo no novo ambiente global que se está a desenvolver, inovando e actualizando-se, e sem perder as suas vantagens comparativas. Quem o diz é Francisco Murteira Nabo, bastonário da Ordem dos Economistas, instituição que esta semana realiza na Madeira o seu terceiro congresso nacional. O primeiro, depois de Lisboa e Porto. Mais adianta que a região autónoma poderá e deverá apostar noutros “clusters” onde possa afirmar-se.


Jornal da Madeira -
A Ordem dos Economistas vem à Madeira realizar o 3º Congresso Nacional dos Economistas entre os próximos dias 22 e 23 de Outubro com o tema: “A nova ordem económica”. Foi um tema escolhido antes ou depois da crise mundial?
Francisco Murteira Nabo - A crise mundial começou a dar os primeiros sinais no princípio do segundo semestre do ano passado, pelo que o tema “A Nova Ordem Económica” para o nosso terceiro congresso foi escolhido já tendo em conta, não só o provável aparecimento da crise, como o facto de já então acreditarmos que, após esta crise, nada será como dantes.

JM - Que espera que saia do congresso? Que linhas de rumo para uma nova ordem económica mundial?
FMN- A qualidade e diversidade dos oradores do congresso não permitem antecipar quais as conclusões que da discussão resultarão, mas não me surpreenderá que concluam que a crise conjuntural que estamos a viver tem raízes muito profundas que importa aprofundar, dado que se é verdade que a globalização provocou um ambiente mais competitivo em todo o mundo, também é verdade que ela gerou movimentos ou fenómenos não previstos que importa corrigir, sob pena de, se o não fizermos, estarmos a alimentar um modelo de sociedade gerador de cada vez maiores injustiças sociais, num ambiente cada vez hostil às questões climáticas, ou seja, numa palavra, cada vez menos sustentável.

JM - Uma economia pequena como a da Madeira, que pode encontrar nessa nova ordem? Deve reforçar a sua aposta secular no turismo ou também apostar noutros clusters como as telecomunicações e as novas tecnologias?
FMN - A base económica da Região Autónoma da Madeira é o Turismo pelo que deve continuar a apostar em manter um turismo competitivo no novo ambiente global que se está a desenvolver, inovando e actualizando-se, e sem perder as suas vantagens comparativas. Evidentemente que a Madeira poderá e/ou deverá apostar noutros “clusters” onde tenha vantagens comparativas. Na minha opinião, porém, a inovação em geral, e as redes de nova geração no domínio das telecomunicações e multimédia em particular, são cada vez mais um instrumento de melhoria da competitividade e da eficiência, pelo que a sua transversalidade obrigará todas as regiões do mundo – e a da Madeira também – a estar atenta às novas tecnologias, quaisquer que elas sejam.
O apostar em fazer da Madeira um pólo de bens transaccionáveis, com vocação global, em indústrias ou serviços de alto valor acrescentado, já obrigará a estudos aprofundados quanto à sua viabilidade, que importa fazer antes de qualquer tomada de decisão nesse sentido.

JM - O Centro Internacional de Negócios da Madeira, criado como complemento económico da ilha será uma aposta a prazo?
FMN - Do que conheço do Centro Internacional de Negócios da Madeira, acho que este tem sido uma aposta de diversificação importante e que se encontra ainda na fase inicial de desenvolvimento.
O único comentário que posso fazer é o de que este tipo de estrutura, em qualquer parte do mundo, por ser muito sensível, tem de estar muito atenta aos novos ventos da mudança, em termos do ambiente económico em que opera, e ajustar-se às condições e exigências das constantes mudanças, quer dos mercados, quer da própria regulação.


Para corrigir o déficit estrutural das finanças públicas
Precisamos de um consenso nacional


Jornal da Madeira - Quais gostava que fossem as preocupações económicas do novo governo da República?

Francisco Murteira Nabo - O país tem crescido, em termos médios, nos últimos dez anos entre 0 % e 2 %. Uma taxa bastante inferior à taxa média de crescimento europeia que, já de si, tem sido também inferior à taxa média de crescimento quer dos EUA, quer nos novos países emergentes como a China, a Índia, etc. Isto quer dizer que o país, e a Europa, ainda não encontraram um modelo sustentado de crescimento que nos permita dizer que os nossos filhos herdam uma sociedade com “um bem-estar” assegurado. As nossas apostas passarão portanto por encontrar sectores e/ou serviços de alto valor acrescentado na área dos bens transaccionáveis que nos permita competir no mundo global. Este movimento passa pela melhoria global das nossas capacidades em termos de inovação, de aumento de escala ou dimensão das nossas empresas e das nossas alianças e vocação internacional. Direi que estas melhorias se encontram em curso, e que o nosso actual modelo económico já não tem nada a ver com o que tínhamos há algumas décadas atrás. Só que este tipo de mudanças são longas, demoram tempo.
Mas acho que necessitamos urgentemente de um consenso nacional ao nível político, sobre como corrigir o nosso deficit estrutural das finanças públicas e que estratégia de desenvolvimento a longo prazo o país deve prosseguir, para que estes dois projectos possam ser continuados independentemente de quem governa o país.


Depois da crise actual
Nova ordem internacional mais justa


Jornal da Madeira - Apesar da oportunidade do tema que comentário faz ao facto de, muitas vezes, os economistas serem conotados com previsões que acabam por não acontecer?
Francisco Murteira Nabo- Tive um professor que dizia que prever é difícil… especialmente quando é feito antes!
Falando a sério, a Economia por ser social é, por definição, uma ciência de difícil previsão pelo que, por vezes, os sinais de crise são de tal modo rápidos que não são facilmente identificáveis.

JM - Porque não souberem “ler” os movimentos especulativos que culminaram com a bancarrota de muitas instituições financeiras e a consequente derrapagem das contas de estados, empresas e famílias em todo o mundo?
FMN - No caso concreto da crise actual já havia sinais de uma eventual crise conjuntural desde que os Estados Unidos da América haviam apostado numa política agressiva de desregulamentação dos mercados financeiros, e a Reserva Federal norte-americana decidiu prosseguir uma política de juros baixos, para aumentar o consumo.
Diria que onde os economistas mais terão falhado é não terem analisado cuidadosamente as questões estruturais resultantes do que nós, economistas, chamamos os ciclos longos.
Daí que nós pensemos que, no fim da actual crise, teremos provavelmente uma nova ordem económica internacional, que passará inevitavelmente pela construção de uma sociedade económica e socialmente mais justa, e em que possamos viver num ambiente menos poluído, modelo a que costumamos genericamente chamar de modelo mais sustentável.


Em vésperas da realização do terceiro congresso anual bastonário reconhece
Delegação é referência de qualidade


JM- Está satisfeito com o desempenho da Delegação da Madeira da Ordem dos Economistas?
FMN - A Delegação da Ordem na Região Autónoma da Madeira tem-se pautado por uma elevada dedicação e um enorme entusiasmo, procurando fazer da Ordem dos Economistas uma referência de qualidade na Madeira, que é uma questão à qual damos muita importância.
Não somos uma Ordem onde se procura ter muitos associados mas, acima de tudo, queremos diferenciar-nos pela elevada qualidade dos nossos membros. A Delegação da Madeira compreendeu isso desde início.

JM - O que levou à escolha da Madeira para a realização do terceiro Congresso dos Economistas?
FMN - Os nossos dois anteriores congressos foram no Porto e em Lisboa.
Como decidimos que os congressos seriam sempre num lugar diferente, aceitámos a candidatura da nossa Delegação da Região Autónoma da Madeira que, de resto, se bateu fortemente para que tal acontecesse.

JM- Quantas pessoas estão inscritas e até quando ainda podem proceder à sua inscrição?
FMN - Estamos convencidos que vamos ter no Congresso em torno dos 500 congressistas. A inscrição pode ser feita até à própria data da abertura do Congresso.




Jornal da Madeira

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