Antiga aspiração da população vai ser satisfeita num centro de saúde único na região
Está em marcha uma revolução no Centro de Saúde do Porto Santo. Que aos poucos ganha o estatuto de Hospital Sub-Regional, pois garante não só a prestação de consultas de medicina geral e familiar, como assegura Serviço de Urgência (24 horas) e consultas em catorze especialidades, oferta que em mais nenhum centro de saúde da Madeira está disponível.
Depois da instalação de uma unidade de radiologia, com três técnicos, desde há um mês que está a funcionar um laboratório que garante aos médicos a possibilidade de requerer hemogramas, a análise clínica que avalia as células sanguíneas de um paciente, ou seja, as da série branca e vermelha, contagem de plaquetas, reticulócitos e índices hematológicos.
Trata-se da concretização de um dos mais antigos anseios da população local e em particular dos médicos, já que no atendimento nas 'urgências' a análise afigura-se como a informação mais importante e fiável na elaboração de um diagnóstico correcto.
10% faz análise
De acordo com a informação que recolhemos, cerca de 10% dos doentes atendidos no serviço de 'Urgência' já obrigaram à realização de uma análise, cujos resultados podem não só auxiliar o médico de serviço, como ser analisadas e discutidas por especialistas em serviço no Hospital Dr. Nélio Mendonça, no Funchal, já que a ficha clínica dos utentes está online. Também as radiografias podem ser vistas por especialistas que estejam em qualquer unidade do SESARAM. Refira-se, a propósito, que uma das técnicas é natural do Porto Santo.
Grande novidade, que deveria ser apresentada este Verão pelo Governo Regional, é a implementação de um serviço de endoscopia, a instalar no espaço que até a data é ocupado pela Segurança Social.
Vídeo-endoscópio
A possibilidade dos médicos locais poderem fazer este tipo exame no Porto Santo afigura-se como muito importante, já que evita aos utentes uma deslocação à Madeira e permite antecipar o diagnóstico precoce de patologias ligadas ao trato gastrointestinal ou respiratório.
Segundo apuramos, o SESARAM adquiriu um vídeo-endoscópio que através do recurso a um tubo com uma micro câmara garante uma imagem que pode ser cem vezes superior ao tamanho normal.
O regresso do médico Rogério Correia à direcção do Hospital Sub Regional do Porto Santo está a ser acompanhada de um reforço de meios e equipamentos, estando já contratada a médica que vai substituir o ex-director, Vítor Santos, que por motivos de saúde deixou a ilha há cerca de dois meses.
Ainda que a unidade do Porto Santo disponha de quatro médicos, que entre si dividem os 6.021 utentes inscritos, a verdade é que a exigência de prestação de serviço de urgência 24 horas por dia, sete dias por semana está a causar algumas dificuldades e significativos atrasos - destacados ao lado - pelo que a população reclama um quinto médico, reforço considerado essencial ao cumprimento dos requisitos exigidos pela acreditação de qualidade que está a ser implementada ao nível dos cuidados primários em toda a Região nos centros de saúde.
Falta um médico
Embora estatisticamente a lista de 1.500 utentes por clínico esteja dentro do que é considerada referência aceitável, a circunstância do novo hospital sub-regional atender 30/40 doentes diariamente na 'Urgência' e as quarenta e quatro consultas por dia que em média são asseguradas tornam o quadro médico insuficiente e causa de algum descontentamento da população, razão pela qual o SESARAM em Agosto vai destacar mais dois médicos em apoio, já que nesta altura os atendimentos sobem para 70/90 por dia.
Importa destacar, ainda, que o Hospital Sub Regional Dr. Francisco Rodrigues Jardim assegura cuidados de enfermagem, internamento, garante a realização de 80% das ecografias, tem uma unidade de diálise com cinco estações de tratamento, bem como medicina física e de reabilitação, nutricionista, psicóloga e uma terapeuta da fala.
Especialistas chegam quatro meses depois
Embora em resposta às questões que colocamos o SESARAM garanta que a unidade dá resposta em menos de um mês aos pedidos de consulta de especialidade, o DIÁRIO apurou que tal não corresponde à verdade na maioria das especialidades.
No caso da medicina dentária entre o pedido e a consulta pode passar quatro meses, embora a unidade tenha agora ao dispor um especialista a tempo inteiro. E os responsáveis admitem também que na oftalmologia os atrasos são igualmente significativos.
A circunstância das consultas de especialidade decorrerem de mês a mês - com excepção para a fisiatria e ortopedia - condiciona a resposta célere exigida pelos utentes. Mas os responsáveis lembram que a pendência (tempo de espera) é inferior ao à realidade que se pratica no Funchal e à maioria das unidades de saúde do país.
Outra das anomalias constatadas diz respeito ao cancelamento da viagem do especialista quando há poucas consultas confirmadas. No caso, as de pediatria, o que prejudica as crianças que com consulta marcada acabam por esperar mais um mês para serem vistas pelos especialistas.
Utentes desconhecem os procedimentos
A resposta dos médicos de família tardam apenas 15 dias, garantem os responsáveis. Também neste caso a referência é generosa, pois o DIÁRIO pediu a quatro porto-santenses que procurassem marcar uma consulta com o seu médico de família e a conclusão é que existem casos em que a data disponível é vinte dias depois da solicitação.
No caso da relação entre o médico de família e o utente, os responsáveis alertam para o facto da maioria desconhecer duas coisas básicas: em que dias e horas trabalha o seu médico e como deve marcar a consulta, pois tem duas chances: agenda a consulta para a data disponível ou, em alternativa, espera pacientemente no próprio dia por uma vaga já que a marcação de consultas só preenche 75% da disponibilidade dos médicos, já que estes reservam tempo para o atendimento dos seus utentes que exijam uma atenção imediata.
O que não devem esperar os porto-santenses é que sejam os serviços a telefonar para casa, um procedimento que se implantou e que leva à ideia generalizada que é preciso esperar mais de um mês para ser atendido.
Autonomia financeira
O Hospital Sub-Regional Dr. Francisco Rodrigues Jardim vai passar a ser uma unidade de gestão autónoma. Deste modo terá autonomia financeira, o que se
afigura muito importante na resposta às necessidades dos utentes, na aquisição de bens e pagamento de serviços.
11.763 doentes
Ao longo do último ano o Centro de Saúde Dr. Francisco Jardim Ramos atendeu 11.703 doentes/utentes. E assegurou ainda consultas de especialidade a 5.574 utentes. Nos primeiros quatro meses deste ano foram atendidos 4.201 utentes e disponibilizadas 1.956 consultas de especialidade.
Dentista dotado
Cerca de 56% das consultas de especialidade são de medicina dentária. Em cada um dos 88 dias úteis deste ano foram atendidos 12 doentes. Mas os serviços reconhecem que a ginecologia e oftalmologia - 9 doentes por semana - são as consultas igualmente com grande procura, tal como a fisiatria, que assegurou 8 consultas por semana.
180 evacuações É a situação extrema. Pela gravidade do quadro clínico o médico de serviço tem à sua disposição o recurso a um pedido de evacuação que é assegurado pelas aeronaves da Força Aérea. O ano passado a FAP foi chamada para evacuar 180 doentes. Ao custo médio de 3.500 euros/hora, as evacuações podem ter custado meio milhão de euros.
2.000 deslocações
Quando a unidade local não pode dar resposta, o Serviço Regional de Saúde protege os doentes e garante o acesso a serviços especializados no Funchal. O ano passado foram instruídos mais de dois mil processos que obrigaram a Região a pagar a deslocação, estadia e até a alimentação dos doentes do Porto Santo quando se deslocam para fora da ilha.
Viajar de barco
Para poupar 30 mil euros por ano, o SESARAM decidiu que as deslocações dos doentes são de barco, o que garantia uma economia de mais de 60 euros por passagem, a que acresce o táxi do aeroporto ao Funchal. O problema é que a deslocação de barco obriga ao pagamento de alojamento de duas noites e três refeições. Ainda assim, a Região poupa 13 euros por deslocação.
DN Madeira
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