Águas de mesa geram negócio de 3,5 milhões
O negócio das águas engarrafadas é recente. Há trinta anos a marca que dominava o mercado era a 'Água do Porto Santo', que no rótulo indicava o palavrão "bacteriologicamente pura" e que era mais utilizada contra indisposições e para ajudar a digestão do que propriamente para ser bebida como água de mesa. O furo de onde era tirada na ilha dourada foi dado como contaminado e desde há muitos anos que a empresa que a engarrafava deixou de existir. Nesse tempo existiam outras águas termais engarrafadas no mercado regional, que se vendiam nas farmácias, recomendadas também para tratamento de algumas maleitas.
A moda do consumo de águas naturais ou de nascente implantou-se na última década. O consumo em força surgiu numa ocasião em que as pessoas começaram a tomar consciência de que a água potável corrente, de torneira, poderia transportar impurezas que, de alguma forma, pudessem fazer mal à saúde. Desconfiava-se da contaminação da água por factores humanos ou químicos, devido aos tratamentos a que estava sujeita. Hoje a questão está ultrapassada, e as câmaras municipais estão obrigadas a análises frequentes e à publicação dos seus resultados. Felizmente na Região Autónoma isso acontece e não consta que existam problemas nesse aspecto. Os riscos dissiparam-se, ou são extraordinariamente menores, mas o bom hábito de beber água engarrafada tem-se mantido e crescido de forma exponencial. Aliás, o consumo de mais água institucionalizou-se nas boas regras dos cidadãos, agora mais cientes de que a hidratação é essencial ao correcto funcionamento do corpo humano.
Água regional ganha quota
Miguel de Sousa, administrador da Empresa de Cervejas da Madeira (ECM), reconhece que o negócio é novo. Confirma que tem crescido bastante e que tem muito mercado ainda para ganhar. Face ao consumo de águas importadas, a empresa regional foi obrigada a lançar uma água de mesa, a 'Atlântida', quando verificou o crescimento das marcas que representava e representa na Região Autónoma: Luso, Serra da Estrela e Frize. Completos os estudos e verificada a viabilidade do projecto, surgiu a água madeirense. A empresa vendeu no ano passado seis milhões de litros de águas engarrafadas, das quais cerca de 37,5% foram da marca própria, que é captada em nascente no concelho de Câmara de Lobos, desde 2005. No ano passado foi lançada uma variante da 'Atlântida', gaseificada, que também encontrou mercado. A tendência de consumo mantém-se. A ECM fornece ainda as grandes superfícies de distribuição alimentar que estão no mercado madeirense (Pingo Doce, Modelo e Sá), embora estas tenham também águas de marcas próprias, com muita procura entre os seus clientes. No total, Miguel de Sousa estima que a empresa tenha facturado dois milhões de euros no segmento das águas de mesa.
Na Madeira estão à venda mais de vinte marcas de águas nacionais e espanholas, sendo visível também nos supermercados e bares algumas outras marcas estrangeiras, nomeadamente francesas, para um nicho de clientela mais alta.
Segundo uma sondagem que fizemos junto de distribuidores e vendedores, estima-se que a Madeira consumiu no último ano cerca de 10 milhões de litros de águas engarrafadas, em vasilhame de diversa capacidade, entre os 20 centilitros e os boiões de cinco litros, o que representa, a grosso modo, um mercado de cerca de 4,5 milhões de euros.
Tendência de crescimento
A tendência é para um maior consumo. A população consome as águas engarrafadas às refeições. Também nos passeios ou nas caminhadas é normal ver pessoas abastecidas com garrafas de água, já que poucos arriscam a bebê-la nas bicas das nascentes que encontram nas serras ou nas levadas como, porventura, acontecia no passado, quando o precioso líquido corria das nascentes, com aspecto mais límpido e mais cristalino. Outro factor que tem levado a um maior consumo de águas engarrafadas é o facto de muitos médicos aconselharem o consumo de água, diversas vezes ao dia. Nesse sentido têm se movido as campanhas de marketing e de promoção comercial das águas minerais naturais e de nascente, às quais se juntam hoje sabores para atrair mais clientela. Tem sido também uma alternativa importante (mais saudável e mais barata) aos refrigerantes que no ano passado, no mercado nacional, acusaram uma quebra de vendas de cerca de 1,6% e aos sumos de frutos e néctares, estes com queda maior, a caírem para os 10,2 por cento.
Importância do sector em Portugal
O volume de negócios do sector das águas minerais naturais e das águas de nascente é de, aproximadamente, 286 milhões de euros
(2008), o que corresponde à transacção de mais de 1 000 milhões de litros de água, segundo dados da Associação Portuguesa dos Industriais de Águas Minerais Naturais e de Nascente (APIAM).
O sector corresponde a cerca de três por cento do conjunto da indústria portuguesa alimentar, assegurando mais de 10 mil postos de trabalho, entre os gerados directamente e os indirectamente gerados, a jusante e a montante da actividade (fornecedores, serviços, distribuidores). "Uma parcela importante deste emprego está ligada a regiões do interior do País, pois as unidades de engarrafamento têm de estar localizadas na proximidade das nascentes", refere a APIAM.
Empresa de Cervejas
6 M
A Empresa de Cervejas da Madeira (ECM) forneceu no ano passado seis milhões de litros de águas engarrafadas.
Das marcas nacionais que representa e da marca própria.
A 'Atlântida' já representa 37,5% do total da distribuição de águas da ECM.
Produção Nacional
1 000 M
A produção nacional de águas minerais naturais e de nascente engarrafadas deverá ultrapassar este ano mil milhões de litros. Dados da associação dos industriais do sector apontam para um crescimento do mercado nos primeiros meses deste ano, de 1,7%, na tendência de 2009.
Águas de nascente
+ 22,4%
As águas de nascente tiveram em Portugal, no ano passado, um crescimento de 22,4%, o que demonstra o dinamismo das empresas que se dedicam à sua captação e comercialização. As águas com gás e gasosas(5% do mercado) estão em queda (menos 0,7% de Janeiro a Março de 2010).
DN Madeira
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