domingo, 9 de agosto de 2009

Morreu Raúl Solnado

Morte do Pai do Humor em Portugal


A Guerra de 1908


O último acto de Solnado
Data: 09-08-2009



Morreu ontem um dos mais mediáticos actores portugueses. Raul Solnado fez rir gerações durnte décadas. Partiu aos 79 anos.

Solnado estreou-se a 14 de Fevereiro de 1953, na revista "Canta Lisboa", e afirmou em entrevista à Lusa, em 2002, ter-se tornado desde então "uma fábrica de rir". Raul Augusto de Almeida Solnado nasceu em Lisboa, a 19 de Outubro de 1929, na Madragoa, bairro onde pela primeira vez pisou o palco, na Sociedade Guilherme Cossul. O nome de Solnado foi-lhe dado pela família de uma expressão que ouvira na aldeia de Fundada (Tomar) - "Acordem que já é sol nado".

Desde o palco da Sociedade Guilherme Cossul, Solnado tornou-se primeira figura em diversas revistas do Parque Mayer, em Lisboa, ao lado de nomes como António Silva, Humberto Madeira, Vasco Santana entre outros, e de muitas comédias "que se mantinham em cartaz durante anos". Actor de revistas, comédias, telenovelas e vários filmes, Solnado é, na opinião da actriz Alina Vaz, que várias vezes contracenou com ele, "uma das últimas vedetas a sério em Portugal". "A guerra de 1914/1918" ou "É do inimigo?" tornaram Raul Solnado um nome de primeiro plano da cena portuguesa, popularidade que a televisão, através da série "Zip Zip" (1969), aumentou extraordinariamente.

A televisão trouxe-lhe "milhões de admiradores", como afirmou à imprensa, recordando outros êxitos de sua autoria, designadamente, "A visita da Cornélia" e "E o resto são cantigas" ou "Querido avô". Alina Vaz que ao seu lado interpretou "Oh que delícia de coisa", no Teatro Villaret, disse à Lusa que o actor "era um homem com imensas histórias de casos e de acontecimentos, de emoções e sensibilidades do teatro".

Depois de concluir o Curso Comercial, em 1947, Raul Solnado começou a trabalhar no teatro amador, afirmando-se profissionalmente em 1953. A década de 1950 foi de ascensão, na opereta, na comédia, na revista e, a partir de 1956, também no cinema. O ano de 1961 marcou o aparecimento do seu primeiro célebre monólogo - "A guerra de 1918" na revista "Bate o Pé", no Teatro Maria Vitória -, a que outros se seguiram, catapultando Solnado para o cume da fama, mercê, em grande parte, da larga difusão que a rádio deu a esses trabalhos, gravados em disco.

Em 1969 esteve na base, com Fialho Gouveia e Carlos Cruz, do memorável programa do historial da RTP "Zip Zip", onde assinou alguns "sketches" inesquecíveis. Outro programa sempre recordado é "A Visita da Cornélia", que a RTP apresentou mais tarde e em que Solnado participou com o humor de sempre.

O actor actuou também no Brasil, em finais da década de 1950, com "largo sucesso" em vários programas de televisão e em teatro. Também como empresário - fundou e dirigiu o Teatro Villaret de 1964 a 1970 -, Raul Solnado deixou assinalada passagem pelo teatro, tendo promovido alguns dos mais importantes espectáculos da década de 1960. O actor está ligado ao projecto da Casa do Artista, de que foi mentor, juntamente com o actor e encenador Armando Cortês, já falecido.

Em declarações à Lusa em 2007, Solnado recordou que foi o actor José Viana que o trouxe para o teatro. Em 1951, com José Viana fez o espectáculo "Sol da meia-noite", que se realizava no cabaré Maxime e que "revolucionou os espectáculos da noite", conforme recordou à Lusa. A última vez que pisou o palco foi em 2001, no Teatro Trindade, na peça "O magnífico reitor" de Freitas do Amaral, em que contracenou, entre outros, com Rui Mendes e Ana Bustorff. Em 2002, iniciou no Casino Estoril o projecto "Conversa à solta" em que recordava êxitos da sua carreira de mais de 50 anos, e com o qual percorreu vários palcos do país.

A telenovela "A ilha dos amores" foi a sua última participação na televisão, que contava no elenco com a sua neta Joana Solnado, em que contracenou, entre outros, com Sofia Alves e Elisa Lisboa. Ao longo da carreira, Raul Solnado recebeu várias distinções e galardões.

Reacções de pesar pela morte do artista

O corpo do actor Raul Solnado está em câmara ardente no Palácio das Galveias, ao Campo Pequeno, em Lisboa. O funeral realizar-se-á hoje às 18:00 para o Cemitério dos Olivais, onde o seu corpo será cremado por vontade expressa do actor. Raul Solnado, 79 anos, faleceu ontem às 10:50, de doença cardio-vascular grave.

A RTP antecipou para ontem a transmissão do primeiro de quatro programas sobre o humor em Portugal apresentados por Raul Solnado e pelo humorista Bruno Nogueira para homenagear o actor.

n A actriz Manuela Maria, da direcção da Casa do Artista, disse que "reina o silêncio" na instituição "o que marca o luto" pela morte de um grande actor.

O actor Alberto Villar, que contracenou várias vezes com Raul Solnado, recordou "o cómico excelente, o grande impulsionador da Casa do Artista, e sobretudo o bom colega".

Solnado "foi um actor generoso" que "tal como Amália Rodrigues perdurará na memória, ao lado de actores como Vasco Santana ou António Silva", disse o actor Rui Mendes.

Diogo Infante, director artístico do Teatro Nacional D.ª Maria II, que contracenou com Raul Solnado na telenovela "A Banqueira do Povo", afirmou que o actor hoje falecido "era uma lição de vida e de talento".

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, lamentou a morte do actor, considerando que este foi uma figura "incontornável" da cultura portuguesa e que "deu a sua contribuição importante pela democracia".

O Grande Oriente Lusitano, uma das principais.
lojas da Maçonaria Portuguesa, lamenta a morte de "um dos seus obreiros mais ilustres", disse o Grão-Mestre António Reis.

O jornalista Joaquim Letria que sexta-feira o visitou na unidade de cuidados intensivos do Hospital de Santa Maria, afirmou que "agora muita gente se irá pôr em bicos de pés", mas que ele recordará sempre "o bom amigo que Raul Solnado foi, as suas conversas e as patuscadas".

Cavaco lamenta o enorma vazio


O Presidente da República manifestou ontem pesar pela morte de Raul Solnado, figura "que marcou uma época de sucessivas gerações de artistas". "Foi com grande pesar que tomei conhecimento da morte de Raul Solnado, figura bem conhecida e querida dos Portugueses, cujo desaparecimento deixa um enorme vazio entre todos os que nos habituámos a com ele conviver", refere o chefe de Estado. Cavaco refere que, pelo seu percurso enquanto actor, "mas também pelo extraordinário projecto de solidariedade que desenvolveu na Casa do Artista, de que ainda era director, Raul Solnado é justo merecedor da mais profunda estima e consideração".


DN Madeira

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