Madeirenses insurgiam-se contra a ditadura
A 4 de Fevereiro de 1931, há 79 anos, os madeirenses revoltavam-se num movimento que ficou conhecido como "a revolta da farinha", precursor, um mês depois, da "revolta da Madeira" contra a ditadura saída do 28 de Maio de 1926.
Na origem deste levantamento popular esteve o Decreto n.º 19273, de 26 de Janeiro de 1931, que estabelecia o monopólio da moagem e que ficou, então, conhecido como o "Decreto da Fome". Este diploma, segundo o historiador Alberto Vieira, "acabou com a livre importação de trigo e farinhas, ficando entregue em regime de monopólio a um grupo de moageiros".
Prosseguindo, Alberto Vieira condensa: "Todos reclamaram contra o novo regime cerealífero em manifestação pública a 29 de Janeiro. Nada demoveu o Governo central e a divulgação do Decreto na imprensa local a 04 de Fevereiro foi o rastilho da rebelião popular".E finaliza: "Os motins alastraram-se na cidade e perduraram até 09 de Fevereiro. Os populares saquearam as moagens, sendo a Companhia Insular de Moinhos o alvo principal. Deste assalto do dia 06 de Fevereiro resultaram 5 mortos e muitos feridos".
O historiador recorda ainda que o próprio governador militar, coronel José Maria de Freitas, em nota oficiosa de 5 de Fevereiro "havia se manifestado desfavorável ao Decreto".O texto legislativo acabou por ser suspenso, mas, continua Alberto Vieira "os madeirenses ficaram sujeitos, a partir do dia 09 de Fevereiro, à represália do Governo central, através do coronel Silva Leal, Delegado Especial do Governo, acometido de poderes administrativos e militares, que chegou à ilha à frente de uma força militar e com poderes discricionários para proceder a prisões e deportações".
O clima de terror e de instabilidade criado na sequência do abafamento da revolta da farinha, despoletou, a 04 de Abril, a "Revolta da Madeira", instigada por políticos, deportados e militares,alguns dos quais integravam as forças do próprio Silva Leal, e madeirenses contra a ditadura do Estado Novo de Oliveira Salazar.
O "Movimento Revoltoso" instaurou a 11 de Abril de 1931 uma Junta Governativa que foi, então, confiada ao general Adalberto Gastão de Sousa Dias e, durante cerca de um mês, a Madeira, com um Governo pelos ideais democráticos, rivalizou com o do continente. Este, no entanto, viria a sucumbir a 02 de Maio com a rendição dos revoltosos face à ofensiva militar preparada pela ditadura.
Jornal da Madeira
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