sexta-feira, 28 de maio de 2010

Museu de História Natural vai mexer consigo



















Moderno, didáctico e interactivo. Assim será o futuro Museu de História Natural do Funchal. Um espaço de saber dotado de tecnologia multimédia, qual "nave" do conhecimento necessário ao homem do futuro, norteado pelo desenvolvimento sustentável. Mas também espaço "sagrado" onde o visitante assume compromissos: o de participar numa lógica de "naturalista do futuro", de ser cidadão responsável e embaixador da diversidade biológica, reconhecendo-a como fornecedora de bens e serviços fundamentais para o equilíbrio do planeta e estabilidade da própria espécie humana.

Vários profissionais conceberam o projecto que dá funcionalidade ao edifício que acolhe actualmente o Museu Municipal. Mudaram-lhe a lógica expositiva em nome do conhecimento, a fonte de descoberta da biodiversidade, que tem sido feita por actores notáveis. A viagem ao futuro será um regresso ao passado. Um olhar que contempla o próprio museu ao longo dos tempos, contando pequenas histórias alusivas a equipamentos, taxidermia, espécimes, eventos, expedições científicas e visitantes ilustres. Um olhar sobre o património acumulado e colecções científicas como fonte de informação para o conhecimento e a gestão.

Os visitantes percorrerão oito momentos de excelência (ver destaque). É hora da redescoberta.

O concurso público internacional de concepção para a elaboração do projecto de remodelação do Museu Municipal mobilizou mais de duas de dezenas de interessados. O atelier madeirense MSB levou a melhor sobre a concorrência, muita dela de vulto. Cabe-lhe agora desenvolver o projecto de execução mais aprofundado para que a Câmara ponha em marcha a empreitada de remodelação.

Os vencedores exibem o primeiro lugar com orgulho. Concorreram por múltiplas razões, bem mais importantes do que o negócio. "Não foi apenas o prestígio que nos fez aceitar o desafio de participar num concurso internacional. Foi também a admiração por um dos mais belos edifícios do século XVIII que a cidade do Funchal guarda em si, e que nos toca de uma forma muito especial. O nosso atelier sede está mesmo localizado no lado oposto da rua ao magnífico edifício que, outrora, foi a casa nobre dos Carvalhais, e onde presentemente funciona o Museu Municipal do Funchal. Sendo o mais visitado museu da Madeira e um dos mais apreciados na Região, foi para nós um agradável desafio criar uma solução museológica que coloca o Museu a par dos melhores, independentemente da sua dimensão".

Miguel Mallaguerra, Susana Jesus e Bruno Martins assumem "o sentido da responsabilidade de transmitir o conhecimento adquirido e o gosto por poder beneficiar claramente um espaço onde o nosso entendimento fosse de encontro aos objectivos dos promotores". "Estávamos convictos que tínhamos a obrigação de criar um projecto museológico inovador, suportado por um edifício carregado de história", frisam.

Os arquitectos estão convictos que há vários aspectos decisivos na vitória. "Em primeiro lugar demos a maior importância ao que estava descrito nos termos de referência. Um concurso é feito de várias componentes de concepção e as que respeitam aos aspectos processuais de apresentação também são importantes e por isso lhes demos bastante atenção. O entendimento absoluto dos critérios de selecção, do programa e do espaço a intervir foi fundamental mas, acima de tudo, o que ditou o conceito museológico que apresentámos, foi a compreensão de todos os parâmetros e elementos que se conseguiram extrair dos documentos, a par com o entendimento de tudo aquilo que é a fundamental riqueza do actual museu, e que é obra de dedicados estudiosos, cientistas e artistas, ao longo de muitos anos".

Foi com base neste conhecimento que criaram um percurso museológico. Está sustentado por "intenções científicas, didácticas e plásticas, que em muito foram ao encontro das principais intenções que os promotores pretendiam ver contempladas, a avaliar pelos altos valores de ponderação que conseguimos em todos os critérios de avaliação". A par destes aspectos, destacam a importância da interdisciplinaridade na concepção do projecto ganhador. "Formámos uma equipa de excelentes profissionais. Em curto espaço de tempo reunimos 24 projectistas e 6 consultores que sustentaram de forma brilhante o nosso projecto. A criatividade e o conhecimento trabalharam sempre em conjunto", referem.

Parcerias decisivas

As grandes obras deixam marcas. Em quem as utiliza e delas tira proveito. Mas também em quem as projecta com recurso a grupos de trabalho interdisciplinares. Uma opção que faz a diferença.

Percurso com conteúdo


História do Palácio e da Família Carvalhal Pequena exibição de painéis com informação sobre a história do Palácio de São Pedro e sobre os condes de Carvalhal. Textos, imagens de gravuras alusivas e outras recolhas etnográficas vão dar a conhecer a importância deste edifício, confrontando-o com realidades urbanísticas da cidade, a vida social funchalense ao seu tempo e das instituições que tão distinto edifício albergou em mais de dois séculos de história.

Origem e evolução geológica da Madeira Enquadra o visitante com a informação de base sobre a natureza geológica do arquipélago, desde a origem, atlântica e vulcânica, associada à tectónica de placas, à posição geográfica passando pelo relevo geomorfologia, mineralogia e paleontologia, contextualizando afinal o "palco", cenário e tempo geológico onde acontece, desde a formação do arquipélago, a História Natural do mesmo.

Simulador geológico No contexto da origem e evolução geológica do arquipélago será proporcionada ao visitante uma experiência em ambiente de simulação mecânica, visual, sonora e aromática, para que possa estar e sentir a vulcanologia associada à formação do arquipélago.

A vida nas ilhas Nesta sala pretende-se ilustrar os principais processos relacionados com a colonização biológica do arquipélago, aproveitando para incluir aspectos ligados aos processos de dispersão e colonização das diferentes formas de vida - autónoma ou dependente de veículos naturais, bem como a sua relação com a origem biogeográfica e a importância que o acaso possui neste processos de colonização e na sucessão ecológica.

O ambiente terrestre Dá a imagem do resultado da colonização biótica (ao nível terrestre) e da sua evolução em termos da composição de unidades ecológicas - habitats, ecossistemas e espécies, típicas da Madeira. O ambiente marinho Sala dedicada ao ambiente marinho numa proposta que conduz o visitante, ao longo do percurso, a uma visita que se inicia no litoral e percorre os diferentes tipos de "habitats" marinhos, desde a zona supra-litoral até às profundidades abissais.

A conservação da natureza e biodiversidade A temática geral desta sala é a de dar a conhecer o estado de conservação das espécies e ecossistemas que compõem a biodiversidade da Região.

O naturalista do futuro O visitante é colocado num contexto em que se compromete, por via das boas práticas ambientais em não contribuir para a perda de biodiversidade e, caso o pretenda, habilita-se a participar directamente em projectos de conservação a realizar ou em curso na Madeira, inscrevendo-se desde logo no mesmo e dando conta das acções que pode e pretende realizar.

O papel dos Museus de História Natural Em complemento quem visitar o espaço também a conhecer e reconhecer o papel dos Museus de História Natural no conhecimento da diversidade biológica ao longo dos tempos, as actividades desenvolvidas por estas instituições e os projectos mais relevantes em curso no Museu.

Tecnologias interactivas

Fogscreen Trata-se de um ecrã de nevoeiro onde personagens históricas convidam a entrar no Museu. O FogScreen, tecnologia patenteada e única no Mundo, é uma projecção interactiva que os visitantes podem atravessar, sendo uma espécie de holograma mas com a dimensão de se poder colocar a mão e atravessá-lo.

Maquete da Madeira Permite descobrir o enquadramento geotectónico da Madeira através de simples botões e da ilustração dos conceitos chave: para cada botão, existe uma configuração luminosa e texto que acende e explica historicamente a geotecnia do arquipélago.

kiosk Explica a separação das placas tectónicas e da dorsal da costa média Atlântica.

Fundos marinhos em 3D Uma forma mágica de visualizar o fundo do oceano em 3D. Consiste num piso interactivo, sob a forma de uma projecção contendo vários hot-spots: zonas do piso que, consoante a localização dos pés do visitante, despoletam animações relativas a um determinado aspecto do fundo oceânico madeirense, ilustrado em 3D.

Levada digital Sequência de vários ecrãs, com imagem de água a correr, em diferentes tipos de levada, a que se junta som adequado.

Ecrãs multi-toque Uma forma colaborativa e cativante que colocará todos os visitantes a interagir em simultâneo, independentemente da sua idade ou nacionalidade. Permitirá a manipulação de conteúdos relativos à variação da vegetação endémica em função da altitude a que se encontram.

Mesas multi-toque Neste módulo, os visitantes podem colaborativamente aprender mais sobre a biodiversidade e a conservação da natureza.

Arquitectura exige qualidade

O atelier MSB-ARQUITECTURA E PLANEAMENTO foi criado em 2004 pelos arquitectos Miguel Malaguerra, Susana Jesus e Bruno Martins. Em 2007 expandiram a sua actividade até aos Açores, e ainda este ano irão estar representados também em Lisboa.

Os arquitectos MSB produzem projectos e estudos nas áreas de arquitectura, urbanismo, design de interiores e planeamento. Ao longo dos últimos 6 anos, o atelier desenvolveu trabalhos nos sectores da Habitação, Indústria Hoteleira, Equipamentos e Urbanismo.

Quais são os vossos grandes propósitos? A obra produzida mostra um entendimento das características únicas da nossa orografia, promovendo e tirando sempre partido da topografia na criação de objectos arquitectónicos únicos, num registo contemporâneo. Este é o nosso propósito.

Quais as obras com a vossa assinatura? Das nossas obras podemos salientar o SPA "Casa Velha do Palheiro", por se tratar de uma obra numa vertente contemporânea, integrada numa envolvência tradicional; a Adega "Vilhos Barbeito", por ter uma componente funcional muito marcante mas, suportada por um projecto com preocupações estéticas; a Casa Reis Nunes, pela singularidade do lugar e pela forma como este objecto se funde na montanha; o Hotel Ponta do Pargo Resort, em que um programa extenso resulta numa volumetria reduzida, acompanhando a falésia; o Plano de Pormenor "Vilagiorgi", como exemplo de Planeamento Urbano, e o Hotel Belmonte, um projecto em Angola que significa a expansão do atelier para fora de Portugal.

Como analisam a arquitectura que se faz actualmente na Madeira? A Madeira sempre teve boas e más intervenções arquitectónicas ao longo da sua história. Podemos enumerar vários exemplos de arquitectura de excelência assinadas, por exemplo, pelos arquitectos Chorão Ramalho (a Assembleia Regional, o hotel Quinta do Sol e o edifício da Segurança Social) e Oscar Niemeyer (o conjunto do hotel Casino Park ). Esta é uma situação que ainda subsiste.

A realidade orográfica que temos é muito peculiar e tem um elevado grau de influência na concepção dos projectos de arquitectura. Os requisitos que agora se colocam à elaboração de um projecto tendem a ignorar aquela realidade. Mas se é certo que a evolução tecnológica permite moldar as construções de encontro às necessidades, esbarra-se nos impedimentos legais que, por serem demasiado genéricos, ignoram as especificidades físicas do local. O conjunto destas condicionantes mostram incompatibilidades que limitam as soluções arquitectónicas e na maioria dos casos não respondem de forma adequada ao equilíbrio das construções com o terreno. É flagrante, e para os profissionais da arquitectura, que no dia a dia lidam com esta questão, trata-se de um aspecto de relevante importância.

O que importa fazer? Adequar a legislação para que se possam adoçar as construções ao terreno, tirando todo o partido da Natureza em vez de a desfigurar com volumes excessivos ou condicionando as possibilidades de investimento. É uma questão de Planeamento com repercussões alargadas a nível da Economia, e um desafio para os próximos anos.

Os anos que passaram (o fim do século XX), foram marcados por um grande crescendo de construção, muitas vezes pautado por um espírito menos sério e culturalmente questionável que relegou o legado cultural e histórico. Também aqui, e por muitos anos, subsistiu uma legislação que atribuiu competências a profissionais não qualificados para o desempenho de projectos e que resultou numa espécie de cegueira em relação às questões fundamentais do território construído, dos padrões do belo e do equilibrado arquitectónico. Simplicidade, sobriedade e coerência foram adjectivos muitas vezes esquecidos no espírito que estava patente na criação de uma obra arquitectónica.

Mas essa triste realidade mudou? Face ao actual momento económico, regista-se um decrescer de construção, e num contraponto de mudança há agora a consciência de que a arquitectura terá de ser feita em qualidade. Agora mais do que nunca, os técnicos terão de ser inventivos na forma como projectam, tendo em conta aspectos económicos, de sustentabilidade, sem nunca esquecer que estamos a deixar uma marca no território, numa ilha que vive da beleza da sua paisagem, que as novas intervenções deverão ter em conta.




DN Madeira


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