O empreendimento do Comboio do Monte está orçado em 6,5 milhões de euros e tem como promotores as empresas “Teleféricos da Madeira”, Etermar, Electricidade da Madeira e os Horários do Funchal
Com o processo de expropriações em curso pela Câmara Municipal do Funchal da antiga estação no Largo da Fonte e de algumas parcelas correspondentes ao itinerário até ao Terreiro da Luta, está iniciado o processo de execução do projecto do Comboio do Monte.
O empreendimento, avaliado em 6,5 milhões de euros, deverá estar no terreno no primeiro trimestre de 2010, contempla a construção de um funicular que ligará as estações do Monte e do Terreiro da Luta, com capacidade para 60 passageiros.
O presidente da âmara Municipal do Funchal, Miguel Albuquerque considera que o Comboio do Montem é um empreendimento que «constitui uma homenagem ao engenheiro Pinto Correia que esteve connosco no lançamento do então teleférico para o Monte, na altura bastante contestado, mas que tem sido um sucesso».
O objectivo do projecto, segundo os promotores, que adquiriram recentemente a Quinta do Terreiro da Luta, passa pela revitalização da freguesia do Monte e pela recuperação histórica do Comboio do Monte que funcionou desde 1893 e 1943.
Fernando Gouveia, presidente da “Teleféricos da Madeira”, um dos promotores do Comboio do Monte, realçou na apresentação do projecto, esta semana, que neste empreendimento turístico «há uma conjugação de interesses da sociedade madeirense, da história e da memória do Comboio do Monte, da iniciativa privada e pública, pelo que este é um bom exemplo de como, em conjugação de esforços, os objectivos são alcançados».
Com intuito de reproduzir mais fielmente as características típicas da época, os promotores optaram por adquirir a Quinta do Terreiro da Luta, desistindo do projecto de construção na zona de uma nova estação.
O antigo Comboio do Monte, constituído por uma máquina a vapor, puxado por cremalheira e composto por uma carruagem de passageiros, é uma referência histórica e cultural da Madeira. Inaugurado em 1893 ligou o Funchal ao Monte e mais tarde prolongou-se ao Terreiro da Luta, percorrendo 3.850 metros de linha até uma altitude de 850 metros.
Passageiros notáveis viajaram no comboio
Entre os passageiros notáveis que viajaram no Comboio do Monte, destaque para o Rei de Portugal, D. Carlos de Bragança, a Rainha D. Maria Amélia de Orleans e Bragança, na sua viagem à Madeira em 1901 e Fernando Pessoa, então com sete anos, acompanhado pela mãe, quando passou pela Região a caminho da Cidade do Cabo, na África do Sul.
A bordo do comboio, esteve ainda, em 1921, o então Presidente da República, António José de Almeida.
Apesar de algumas vicissitudes, como o aumento do preço do carvão de pedra, ou a primeira guerra mundial, com as consequentes reduções drásticas do fluxo de turismo, ou ainda a explosão de uma caldeira em 1919, o comboio permaneceu em funcionamento até Maio de 1943, em plena Segunda Guerra Mundial.
Percurso entre o Monte e o Terreiro da Luta
O actual comboio fará o percurso original, apenas entre o centro da freguesia e o Terreiro da Luta. Trata-se de um funicular moderno, que será conduzido por um maquinista como se tratasse de um eléctrico, composto por uma carruagem plana de modo a permitir o conforto dos passageiros.
O projecto apresentado publicamente aponta para uma carruagem com acabamentos que reflectem o ambiente e características típicas da época do comboio original. No interior predomina a madeira pintada e envernizada, armaduras de iluminação em latão e vidro e os cortinados riscados. Exteriormente, a carruagem apresenta uma pintura de cor vermelho escuro com molduras em amarelo dourado.
Estação será recuperada e ampliada
A Estação do funicular do Monte situada no Largo da Fonte está actualmente em avançado estado de degradação, devendo ser recuperada e ampliada, para receber os serviços da estação, acomodar uma casa de chá e uma loja comercial.
O projecto da estação prevê que no edifício seja criada uma decoração alusiva ao princípio do século XX, de modo a proporcionar aos visitantes um ambiente o mais próximo possível do original.
Nesta obra, será recuperado o alpendre original da estação e a sala de espera dos passageiros, que estarão localizados no 1.º piso do edifício juntamente com a bilheteira. No piso térreo, virada para o Largo da Fonte ficará instalada a sala de chá com uma esplanada no exterior e uma loja para venda de produtos da empresa Comboio do Monte.
Por seu turno, a estação do Terreiro da Luta ficará situada junto à quinta, onde em 1912 foi inaugurado o restaurante “Esplanada”, no terminal da linha férrea.
O projecto contempla a recuperação dessa zona, hoje dotada de amplos restaurantes. Envolta em área florestal diversificada, da Quinta do Terreiro da Luta é possível ter uma vista soberba sobre o Funchal. No jardim pontua uma escultura de Francisco Franco representativa de João Gonçalves Zarco.
Moradores do Monte satisfeitos com projecto
O presidente da Junta de Freguesia do Monte, José António Pestana, não tem dúvidas em afirmar que o empreendimento constitui «uma mais-valia para o turismo que visita a Madeira e em particular o Monte».
O autarca regogizou-se com a apresentação do projecto realizada esta semana, sinal de que o processo está em andamento. Por outro lado, visto os promotores do Comboio do Monte conheceram bem a realidade e as potencialidades da freguesia, José António Pestana considera que o funicular «será um sucesso, enriquecendo o património turístico do Monte, não apenas com a recuperação do edifício da estação como da própria dinâmica que o investimento representa para o comércio local».
Outras opiniões, recolhidas pela nossa reportagem vão de encontro à ideia defendida pelo presidente da junta.
Eduardo Pereira, reformado, considera que o projecto «vai ser muito bom para o turismo para revitalizar toda esta zona do Largo da Fonte». Na óptica do nosso interlocutor, o comboio será «um bom complemento ao teleférico», defendendo, por outro lado, que a partida do comboio fosse a partir da zona do Colégio do Infante, possibilitando a passagem pela ponte junto ao Largo da Fonte.
Pelo mesmo diapasão, afinou
“Manaca”, trabalhador de hotelaria, residente no Monte. «A ideia do Comboio do Monte é muito boa e será excelente para o turismo», realçou. Porém, refere que seria uma mais-valia para a freguesia, complementando os novos projectos, a criação de um posto de informação de Turismo.
A este propósito, Eduardo Pereira considera que seria mais útil ter agentes de informação turística volantes e não sedeados num posto fixo. Tal como referiu, muitos turístas que chegam no teleférico, sabem da existência de alguns atractivos do Monte, mas, muitas vezes desconhecem a sua localização.
Jornal da Madeira
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